Crítica ao Halloween no Brasil

Crônicas | Carlos Roberto Ribeiro
Publicado em 31 de Outubro de 2024 ás 12h 28min

O Halloween, ou Dia das Bruxas, celebração amplamente difundida nos Estados Unidos, ganha cada vez mais espaço entre nós, brasileiros. Suas fantasias, decorações e festas têm conquistado corações e mentes, principalmente entre os jovens. No entanto, a adesão crescente à festa levanta uma série de questionamentos sobre a influência da cultura norte-americana em nosso país e a maneira como nós, brasileiros, abraçamos elementos estrangeiros, muitas vezes em detrimento de nossas próprias tradições e valores.

Um dos aspectos mais positivos que a comemoração do Halloween traz é a sensação de escapismo e diversão, especialmente em um momento do ano em que o clima mais leve das festividades é bem-vindo. A data proporciona um ambiente propício para a expressão de criatividade e imaginação, com fantasias elaboradas, decorações temáticas e eventos diversos que aproximam amigos e famílias. Para muitos, o Halloween é um alívio em meio à rotina intensa e uma oportunidade para o comércio, que vende desde doces até figurinos e adereços, gerando empregos e aquecendo a economia.

Por outro lado, a proliferação do Halloween no Brasil evidencia a força que a cultura norte-americana exerce sobre a nossa sociedade. Somos bombardeados por filmes, séries e músicas que trazem o Halloween como um momento marcante, quase obrigatório do calendário festivo. De certa forma, a celebração se torna uma extensão da "soft power" dos Estados Unidos, que, através do entretenimento e da mídia, influenciam nossos gostos, comportamento e até nossas celebrações. Há uma evidente adesão, quase automática, aos símbolos do Halloween – abóboras, bruxas, caveiras – sem que muitos conheçam ou reflitam sobre o significado histórico e cultural dessa festa.

Isso levanta uma crítica fundamental: a adesão acrítica ao Halloween pode desvalorizar e até apagar nossa própria cultura. O Brasil é um país rico em folclore, com figuras como o Saci, o Curupira, a Iara, entre outros personagens que representam nossas raízes e são portadores de lendas e valores históricos. Estes personagens, que habitam o imaginário brasileiro e carregam em si a diversidade de nossos povos e territórios, acabam sendo relegados ao segundo plano. A popularidade do Halloween pode fazer com que tradições locais, como o Dia do Saci, instituído em 2003 para ser comemorado no dia 31 de outubro como uma alternativa brasileira, se tornem apenas notas de rodapé na memória cultural do nosso país.

Outro ponto de crítica é a natureza comercial do Halloween, que se adapta facilmente a um mercado ávido por novidades e estratégias de consumo. Assim como outras datas que, aos poucos, foram integradas ao calendário brasileiro, o Halloween acaba se tornando mais uma oportunidade de compra, com uma enxurrada de produtos e propagandas incentivando o consumo sem, necessariamente, agregar valor cultural ou social. Nesse sentido, a celebração também passa a ser questionada por quem vê nas festas e nos adereços uma expressão de um consumismo desenfreado que não condiz com a realidade econômica de muitos brasileiros.

Enquanto o Halloween ganha cada vez mais força no Brasil, é preciso que nos perguntemos: qual o preço dessa aceitação? Estaríamos perdendo nossa identidade cultural, enfraquecendo nossas tradições e nos distanciando do nosso folclore para abraçar uma festa que, embora divertida, não representa quem somos? O que se perde quando uma nação adota, de forma tão rápida e acrítica, as comemorações de outras culturas?

Talvez o verdadeiro desafio seja encontrar um equilíbrio. Celebrar o Halloween pode ser um momento de diversão e até aprendizado, mas é essencial que essa aceitação não nos afaste de nossas raízes. Não é um erro participar de uma festa estrangeira, mas é necessário que também valorizemos as datas que reforçam nossa cultura, que celebremos a diversidade dos nossos personagens folclóricos e as histórias que formam nossa identidade.

 

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