Conceito de saber e poder

Este texto trata-se da análise de um poema que fez a doutoranda, Profª. e poetisa Elisângela Dias Savoia, (Sorriso-MT) que delineia a relação entre o saber e o poder, segundo a concepção do teórico francês Foucalt, à luz de estudos em sua tese de Doutorado, tendo obtido nota máxima quando submetido à avaliação.

“(…) Assim, será possível entender como estes conceitos apresentados por Foucault contribuem para a organização e análise do corpus desta pesquisa que estuda o gênero poema. Para tanto, abordar-se-á um texto literário, pois o saber também pode estar presente em textos ficcionais, conforme o teórico francês. Logo, o exemplo evocado pertence ao domínio do discurso literário e, desta forma, será tecida uma breve análise do saber e do poder baseadas na concepção de Foucault. O texto poético foi produzido por um escritor (não-linguista) da região norte de Mato Grosso, mais especificamente da cidade de Sinop.

Alimento da Alma

Enoque Gabriel

(Homenagem ao poeta)

[…]

Configuras em tuas belas palavras

a magia que cura as feridas!

Como o médico que trata o doente,

zeloso é, com todo paciente,

trazes o lenitivo com as letras proferidas!

És, através dos teus versos, o portador,

mensageiro da esperança e da alegria!

Para o coração cansado és broquel,

para o ser amargurado és o mel

e para a alma abatida suave melodia!

Concentremo-nos primeiramente na questão do saber. É possível identificar a relação do saber estabelecida por meio do conhecimento que o poeta (eu lírico) demonstra ao escrever. Os versos “Configuras em tuas belas palavras” e “trazes o lenitivo com as letras proferidas” mostram o domínio da língua escrita, o desempenho da função do escritor que é produzir poemas. Ele lida com as palavras de modo a transformá-las em remédio para curar a alma, para tanto é necessário um saber linguístico específico revestido de saber científico, o poeta conhece, compreende a linguagem e sabe fazer uso dela.

Já o poder pode ser identificado no poema na primeira estrofe apresentada quando o autor afirma que suas palavras têm o poder de curar e compara seu ofício com o do médico, sendo uma autoridade naquilo que faz. Além disso, na segunda estrofe também é possível apreender a relação de poder estabelecida pelo escritor, pois este tem convicção de que sua escrita e suas palavras exercem influência positiva sobre as pessoas, como nos seguintes trechos “És, através dos teus versos, o portador” e “mensageiro da esperança e da alegria!”. Assim, a validade daquilo que o poeta afirma vem de uma comparação com o médico (autoridade da área da medicina/da saúde). Portanto, o poeta (autoridade nas palavras/na área da escrita) figura como um médico da alma, coloca-se numa posição de alguém que detém o poder de curar a parte emotiva das pessoas. 

Por conseguinte, o poeta torna-se um sujeito ativo em sua ação sobre o outro (o receptor/leitor da poesia) e sobre o mundo, pois intenta deixar o mundo do outro mais leve, mais alegre, conforme depreendido por meio da leitura da produção poética analisada. O sujeito poeta se ocupa em seu discurso em utilizar a sua escrita (saber) para fazer a diferença na vida do outro (poder). Utiliza o conhecimento da língua para exercer influência sobre o outro, causar uma mudança de comportamento, deixá-lo curado e feliz. Para finalizar, cabe destacar que, de acordo com Foucault, a literatura não é feita somente de enunciados, é feita também de visibilidades capturadas pelos enunciados.”

Elisângela Dias Savoia

Professora, educadora,

Doutoranda