COISA SÉRIA

Joseti Gomes

Uma, duas, três…

Eu até perdi a conta!

Em cima da minha cama

tem um eito de bonecas…

Peço licença aos senhores

pra falar de coisa séria.

As bonecas, minhas filhas,

estão muito bem cuidadas.

Quero falar de outro assunto

que me deixa apavorada!

Encontrei alguns retratos,

num baú sem dono certo,

num porão da casa antiga

onde morou minha avó.

Muitos olhares perdidos

e deles eu tive dó…

Rostos sem um sorriso!

Mulheres com muitos filhos!

Homens de roupas tristes

com bigodões e chapéu.

Muitas nuvens em seus olhos,

poucas estrelas no céu.

Não entendo como pode

um retrato falar tanto!

Não dizer uma palavra

e tocar meu coração!

Eram só fotografias,

esquecidas, num porão!

Na cadeira de balanço,

com lencinho na cabeça,

uma senhora com rugas

e pele quase sem cor.

Olhos cheios de ternura

naquela ausência de amor.

Vi um cachorro deitado

aos pés de uma senhora

que era triste no registro

daquela cena arrumada.

Será que sentia fome?

Será que foi maltratada?

Comecei a ficar tonta

com as imagens que vi.

Voltei correndo pro quarto

das bonecas coloridas.

Trouxe a dúvida comigo:

qual o mistério da vida?

Peço licença aos senhores

que são pais, mães e avós.

Eu peço uma resposta

para a minha indagação:

Por que aquela avozinha

tinha dor no coração?