Uma tarde cinza,
o vento arranha as janelas,
e a chuva desenha linhas incertas
no vidro embaçado.
Cada gota parece um lamento,
caindo com o peso do silêncio,
preenchendo o vazio entre os dias.
O frio abraça,
não com o afeto de mãos quentes,
mas com a solidão
de quem esqueceu o calor do sol.
A alma, feita de neblina,
caminha por dentro de si,
procurando um resquício de luz
nas sombras que nunca se dissipam.
O tempo escorre,
como a água nas ruas vazias,
levando memórias perdidas,
esperanças frágeis
que desabam, uma a uma,
como folhas no fim do outono.
E ali, entre as gotas,
o coração murmura
palavras que ninguém escuta,
na tarde que se vai,
no frio que fica,
no silêncio que grita
a dor que nunca se cala.