Cheiro de nós

Poemas | 2025 - MAIO - Laços de família: Histórias de amor e conexão | Darcília Lebron
Publicado em 01 de Junho de 2025 ás 23h 30min

Cheiro de nós

 

O rádio ligado e músicas que soltavam notas no ar

Pra quem ousasse ou quisesse pegar

O recolhimento e o respeito na “Hora do Angelus”

... e as 3 ave-marias

 

Cheiro de sopa e o ronco na barriga

Sem escolher o que comer no jantar

nem questionar ou reclamar da fome ou da fadiga

 

A luz da lamparina e o boa noite

quase “junto com as galinhas”

 

O enrolar-se nas colchas de tear que a vó fazia,

mais pesadas do que quentes; acho que até frias...

O barulho das palhas secas do colchão

E as colchas logo caídas no chão

 

O madrugar com a geada e os agasalhos fracos e escassos

Garrafa de café com farofa e a ida pra lida na roça

 

Serviço era a serventia da casa sem wi-fi

De criança, de adulto, de mulher, de homem forte

Fazia o que se tinha pra fazer, sem contar com a sorte

E o que não tinha, se inventava , imaginava, criava

diversão, brinquedo, travessura ou traquinagem

 

O tempo parece que não passava

Se agarrava segurando os ponteiros dos relógios em tic-tac

como que a percorrer todo o percurso arrastando as pernas no chão

 

Almoço em família

Jantar em família

Trabalho em família

Igreja em família

Briga e também perdão

 

Vai dia e vem dia...

E qualquer festa era bom

Podia ser do que fosse, desde que tivesse biscoito, café e doce

Casamento, aniversario ou visita a parente ou vizinho sempre havia

Ida aos compadres ou até velório valia

Só tinha que se comportar, senão vinha o beliscão

Era em quermesse, festa de santo ou procissão

Novena de Nossa Senhora ou São Sebastião

 

Ah, vida pacata e vazia,

sem internet ou celular

por vezes o tédio batia

pra isso não tinha remédio

nem psicologia

havia sempre de ter que se virar

sem tik tok

sem o tal de não me toque

até apanhar...

 

Tudo em família

Sem precisar dizer se era melhor que hoje ou pior

 

Eram apenas os tempos de outrora

Com muito cheiro, jeito, gosto e aspecto de nós.

 

(Darcy Lebron, maio de 2025)

 

 

 

Comentários

Este poema expõe um doce saudosismo! Adorei!

Lorde Égamo | 18/07/2025 ás 19:54 Responder Comentários

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