Caso do Acaso. Uma História de Conexão.

Crônicas | 2025 - FEVEREIRO - Corações em chamas: poesias e histórias de conexão | Rose Correia
Publicado em 18 de Fevereiro de 2025 ás 11h 10min

"Caso do Acaso" - Uma História de Conexão

 

Em meio à correria da vida, em uma cidade pacata e movimentada, vivia uma garota sonhadora e inspirada. Olívia trabalhava como representante comercial, viajando para vários lugares — às vezes de carro, avião ou ônibus. Havia iniciado um compromisso com uma empresa em uma cidadezinha do interior e, a cada quinze dias, precisava visitá-la. Simpática e descontraída, Olívia fazia essa viagem sempre de ônibus.

 

Era uma sexta-feira à noite. Ela entrou no ônibus, havia comprado a passagem no dia anterior. Carregava apenas uma bolsa de mão seguiu em direção ao seu assento, poltrona três. Ao chegar, acomodou-se e logo cumprimentou seu parceiro de assento, que estava na poltrona quatro. Assim, uma conversa descontraída se iniciou, como se já se conhecessem há muito tempo. Muitos risos, muitos assuntos — era inacreditável sentir uma conexão tão gostosa, a ponto de querer que aquele momento se estendesse.

 

Olívia, sempre sorridente, com um olhar meigo e doce, se encantou com o moço alto, moreno e simpático ao seu lado. Entre tantas trocas, havia algo que os prendia em olhares longos e fixos. Enfim, ela chegou ao seu destino. Despediu-se com um simples "até logo, João", sem saber se voltariam a se encontrar. Desceu as escadas e seguiu seu caminho, enquanto João continuava a viagem, pois seu desembarque era um pouco mais adiante. João também viajava entre as cidades para executar seus projetos.

 

Passaram-se quinze dias. Mais uma vez, Olívia embarcou no ônibus, agora na poltrona cinco, ao lado da seis. Era noite, e, cansada, apenas se acomodou. A cortina que separava as poltronas estava abaixada. Em algum momento da viagem, sua perna encostou na do passageiro ao lado, e ela imediatamente reconheceu aquele toque. Sabia que era o moço da poltrona quatro.

 

Ela não disse nada no momento. Depois de um longo trajeto, despertou, ergueu a cortina e, ao olhar para ela, sorriu largo, incrédulo:

 

— Você?! Meu Deus, não é possível!

 

Ela olhou para ele e sorriu.

 

— É possível. O destino nos colocou novamente lado a lado.

 

Ele riu e confessou:

 

— Pensei em você esses dias. Não conseguia esquecer seus pés.

 

Ela arqueou as sobrancelhas, rindo:

 

— Meus pés? Com tantas coisas para olhar, olhou logo para os meus pés?

 

— Olhei tudo... Mas seus pés são esplêndidos. Pequenos como um chaveirinho! Os dois riram.

 

A viagem seguiu recheada de risadas e conversas, como se fossem íntimos há anos. Mas não eram. Aquele era apenas o segundo encontro — um acaso inesperado. Mais uma vez, Olívia chegou primeiro ao seu destino e se despediu com um novo "até logo", pois ambos sabiam que para ter algo era necessária uma mudança que não estava prevista no momento.

 

Cada um seguiu sua rotina. Ela, representante comercial; ele, engenheiro civil. Não tinham contato nas redes sociais. Era apenas o acaso. O que tinham em comum eram as viagens de trabalho.

 

Quinze dias depois, Olívia embarcou novamente. Sempre gostava de se sentar nas primeiras poltronas, então garantiu sua passagem com antecedência: poltrona doze. Ao subir as escadas, procurando seu lugar, avistou um braço masculino com uma camisa de manga longa e xadrez.

 

— Não... Não é possível... O que é isso?

 

Ele riu.

 

— Todas as pessoas que entravam, eu olhava os pés!

 

— O quê? Sério?! — disse ela, colocando a mão no rosto, rindo.

 

Ela se acomodou, e a conexão entre os dois era nítida.

 

— Nosso terceiro encontro... — brincou ele.

 

— Encontro? Um encontro bem peculiar, não acha?

 

A conversa tomou um rumo diferente. Dessa vez, João se abriu:

 

— Nunca imaginei encontrar alguém tão especial como você. Queria que esse ônibus rodasse a eternidade para não ter que dizer "até logo" e ficar torcendo para você se sentar ao meu lado daqui a quinze dias.

 

Antes que ela respondesse, ele continuou:

 

— Eu já sei o que você vai dizer, então... não diga nada.

 

Ela sorriu.

 

— Tudo bem.

 

Naquela viagem, ele pediu seu número de telefone. E, claro, ela deu.

 

A viagem seguiu seu percurso. Entre prosas, risos e paradas do ônibus, João lhe pagou um café. A cada quilômetro percorrido, a sintonia entre eles parecia crescer.

 

— Estou vendo as luzes... Estou chegando ao meu destino.

 

Ele suspirou.

 

— Poxa, já? Vem comigo mais adiante.

 

Ela riu.

 

— Sabe que isso não é possível.

 

Ele sorriu malicioso.

 

— Logo você, que sempre diz "é possível"?

 

Os dois riram. Ela se despediu:

 

— Até logo. E não me mande mensagem.

 

Nos dias que seguiram, no entanto, eles trocaram mensagens. João sempre se declarava; Olívia, um pouco arredia. Afinal, ambos estavam viajando somente para cumprir agenda de trabalho. 

João estava na cidade de Olívia para trabalhar em um projeto que era o engenheiro responsável. João vê uma chance de conhecer melhor Olívia. Durante o tempo em que esteve na cidade, João e Olívia se divertiram muito com tudo o que fizeram, mas João sempre respeitou o espaço de Olívia.

 

Nas conversas, que ficaram cada vez mais gostosas, ele finalmente fez um convite:

 

— Vamos tomar um vinho?

 

Ela aceitou. Tinha passado dias trabalhando em um projeto e precisava compartilhar. Após o vinho, ele a levou até a sua casa. Ela o convidou para entrar.

 

Os olhares se encontraram. Um beijo aconteceu. O toque dos lábios acendeu algo que ambos sentiam desde o primeiro momento em que se viram. As mãos percorreram os corpos, o desejo foi irresistível. E, finalmente, deixaram acontecer.

 

Naquela mesma semana, Olívia recebeu uma proposta de trabalho e aceitou. Uma nova fase de sua vida começava.

 

E João?

 

João estava lá.

 

Eles se conectaram com mais intensidade e iniciaram uma linda história que começou em uma poltrona de um ônibus, em um trajeto traçado pelo acaso. Olívia refletiu, sorrindo para si mesma, como a vida tinha uma maneira estranha de mostrar que tudo acontece no tempo certo. Às vezes, o acaso não era apenas um acaso, mas um caminho que nos leva ao lugar certo, com as pessoas certas. E, ali, naquele momento, ela sentia que o acaso tinha sido tudo, menos acidental.

 

João e Olívia agora viviam na mesma cidade, e o que parecia uma história improvisada e sem rumo logo se transformou em algo profundo e cheio de possibilidades. O que começou com conversas casuais em um ônibus se tornou a base de uma conexão verdadeira, que ia além dos momentos divertidos e dos olhares trocados. Eles compartilhavam sonhos, preocupações e até medos. Cada dia ao lado do outro era uma descoberta — uma jornada de descobertas e de aprendizado.

 

Olívia, que antes via o acaso com desconfiança, agora o via como algo necessário. João, por sua vez, entendeu que cada passo dado até aquele encontro foi essencial para que eles se encontrassem naquele exato momento, naquele exato lugar. A vida, às vezes, surpreendia de maneiras misteriosas, e o que parecia ser uma coincidência era, na verdade, o desenrolar de algo que estava prestes a mudar suas vidas para sempre.

 

E assim, João e Olívia descobriram que, por mais imprevisível que a vida fosse, o acaso poderia ser a maior forma de conexão que existia.

 

Por. Rose Corria.

Comentários

Que texto emocionante! viajei no enredo e fui ate Olivia por uns momentos!! aplausos par você grande escritora!!!!!

Artemise Galeno | 18/02/2025 ás 21:26 Responder Comentários

Que conto lindo, expressivo, que nos prende a atenção e nos deixa lições, como exemplo " Às vezes o acaso é o caminho que nos leva ao lugar certo"! Parabéns Rose, escritora!

Lorde Égamo | 20/02/2025 ás 16:17 Responder Comentários

Obrigada!

Rose Correia | 20/02/2025 ás 17:22

Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.