Carta Para Minha Madrinha

Poesias Gaúchas | PAULA MICHELE PAES ONISKO DE OLIVEIRA QUEIROS
Publicado em 11 de Novembro de 2025 ás 18h 58min

CARTA PARA MINHA MADRINHA

Paula Michele Paes Onisko de Oliveira Queiros

Aaaah minha madrinha

Foi tudo tão de vereda,

Uma cruel arapuca da vida.

Num upa o destino nos golpeou,

Sem misericórdia, piedade, sem dó,

Nos apunhalaram com a fatalidade do adeus

E sua angustiante despedida

Foi árdua, dolorosa e inevitável.

 

Como andas por ai, minha dinda,

Na tua nova estância, com nosso Patrão Velho?

Neste lugar, continuo a caminhada

Procurando ser forte e persistente...

Para aguentar o repuxo da vida

E suporta o sentimento de culpa,

Pois de certa forma,

Apenas eu e a senhora conhecia o destino.

 

Os dias tem passado

E a saudade é irremediável e fatal

Apenas restam nossas recordações...

E que recordações! Aprontamos quantas proezas,

Nossas longas prosas que varava a noite.

Sem falar nos nossos ‘cineminha’ em casa,

O qual apenas nós duas ficava acordadas

Da boquinha-da-noite até a barra-do-dia... Que Saudade...

 

Minha madrinha meu exemplo de prenda.

Sinto tanto usa ausência,

A falta do teu achego e teu apoio,

Não tinha um que senhora não cativava

Com sua disposição e principalmente o teu caráter.

Faceira, contagiava a todos com teu ânimo.

Uma chinoca determinada, valente e braba

Por aquilo que era correto e justo

 

Partiste tão cedo minha dinda,

Só espero que nesta tua nova estância

Não existam os entreveros e os lambem esporas

Coisa que aqui tu odiavas.

Assim como a inveja, a traição e a falsidade.

Me recordo quando me falavas

Das injustiças cometidas que te fizeram sofrer

Sem que os demais notassem... Que mulher guapa!

 

Quem sabe daí agora, tu possas enxergar

Como realmente são os que conviviam com a senhora

Alguns, como eu, teu piá e tuas gurias

Ainda sofrem e choram pela sua falta que tu faz

A moçada seguida lembram de ti,

Principalmente das festanças que só a senhora sabia fazer

Já outros, traiçoeiros, invejosos e interesseiros,

Os quais de certa forma te traíram, te apunhalaram

 

Mas madrinha...

Jamais iram ocupar o seu lugar

Você é uma joia rara insubstituível

E entanto viver vou lutar a laço e espora

Para defender os que precisam e resguardar sua memória.

Pois fizemos um arreglo,

O qual prometi cuidar e proteger dos seus até o fim

Sem medir esforços e nem consequências.

 

Mas deixa contar algumas novidades

Meu pai, o teu irmão, direto lembra de ti

Ah... ele ainda continua queimando campo

Tua neta volta e meia pede da vó

Até sua guaipeca sente tua falta

Já teus filhos, os quais você deve se orgulhar muito

Seguem o caminho que você os conduziu

 

Ahhh... o teu pia que agora é um baita peão está noivo.

Ahhh Minha Dinda, que saudades

De nossas farras e festos,

De teus conselhos e teu esteio

E de tuas deliciosas iguarias

Das quais algumas me ensinaste.

Sempre que eu estava jururu

Chegava toda folheira me assuntar

E nos duas acabávamos eufóricas

 

Entretanto, me corrói por dentro

Quando lembro-me de você peleando com esta maldita doença

A qual te fazia sangrar e mesmo assim tu foste guerreira

Mesmo fraquinha nunca te vi arriar

Guerreou sem fraquejar até o ultimo momento,

Ainda te vejo no meio das nossas festanças

Sempre fazendo folia com a moçada

E quando bailava... Que prenda mais linda.

 

Impossível te esquecer minha amada Madrinha

Sua simplicidade, dignidade e sua honestidade.

É admirada por muitos de nós.

Por todos, tu sempre serás lembrada

Como uma raridade sem igual

Bem protegida em nossos corações

Pois tu deténs uma riqueza dentro de ti

Fascinante e imensurável

 

Eu sigo a vida tentando seguir seus últimos conselhos

Como: - Menina, levanta a cabeça segue em frente...

- Pense mais em você do que nos outros...

- Isso mesmo desabafa, chore, grite...

- Paula cuidado com o que você pensa

- Não sofra por antecedência menina...

- Nunca mais fale em desistir

- Paulinha você é mais forte que todos nós juntos.

 

É madrinha, já não sou mais tão forte assim

No dia que a senhora se foi levou minhas forças

No momento que te vi ali estagnada

Sem vida, minha ânsia foi partir contigo.

Pois sua promessa de estar comigo e nunca me abandona

Não fazia mais sentido,

Mas hoje sei que de onde está, mesmo distante

Tu estás presente, como um anjo da guarda.

 

Por isso Madrinha me dê forças

Para cumprir meu arreglo, como o prometido

E tentar seguir sempre em frente,

Com a mesma garra e determinação que a senhora tinha

Que orgulho sinto de ser sua afilhada, sua filha de coração...

Dinda, essa é apenas umas das cartas que escrevi

Para que a senhora recebas um abraço

Dos que aqui ficaram, e minha eterna gratidão por existir...

Livro: Antologia Clube da Poesia e Declamação Gaúcha

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