Barranco Vermelho
Encontrei-me encostado em um barranco de terra vermelha, os pés descalços afundando no solo úmido. As barras da minha calça estavam pelo meio da canela, como se tivesse encolhido e minha cabeça girava como se eu tivesse tomado algo forte. Um leve gosto metálico tomava minha boca, e um zumbido insistente ecoava nos meus ouvidos. Com os braços apoiados no barranco, tentei reunir os pensamentos. O que havia acontecido? Como eu tinha parado ali?
Olhei ao redor, buscando algo familiar, mas não havia ninguém. O silêncio era cortado apenas pelo gorjeio dos pássaros e pelo som distante de águas caindo. O vento frio roçava minha pele, trazendo o cheiro fresco de eucalipto. Os primeiros raios de sol tocavam minhas têmporas, anunciando o alvorecer de um dia incomum.
A sensação era estranha. Aquele lugar não me era completamente desconhecido, mas minha mente não conseguia fixar onde era. Fechei os olhos por um instante e inspirei fundo. Foi então que uma lembrança surgiu—um fim de tarde correndo descalço por um campo de terra vermelha, risadas ecoando no ar, o aroma de café e bolinhos de chuva vindo da cozinha da tia.
Abri os olhos, e então soube: era o Paraná.
Apressado, tentei me ajeitar, tirando os braços do barranco. Precisava encontrar meus sapatos, arrumar a calça e correr para a casa da tia. Imaginava já o calor do café e o sabor doce dos bolinhos.
Mas, no momento em que me movi, o solo cedeu. Um segundo de vertigem, o corpo flutuando no vazio—e então a queda.
Acordei.
Cronica Onírico. Rose Correia.