Arroio do Portão
Cordel | 2025 - AGOSTO - Ventos do tempo: Memórias e despedidas | Rose CorreiaPublicado em 08 de Abril de 2025 ás 07h 55min
Arroio do Portão
Arroio, Arroio, Arroio do Portão
Tuas crianças corriam no chão,
Nas estradas de terra e poeira,
Chicória e mostarda na beira,
Serraia e o dente de leão,
Enfeitavam com graça o teu chão.
Teus montes vestiam fartura,
Arroz, trigo, milho — natura!
Tinha feijão, algodão branquinho,
Tudo plantado com muito carinho,
Na lida do sol e do verão,
Florescia com força o rincão.
Nos riachos, a vida jorrava,
Peixe e agrião ali se criava,
Tinha caranguejo no barranco,
E a meninada pulava no banco,
Rindo, nadando com emoção,
No leito sereno do Portão.
Nas fruteiras, encontros mil,
Sabiá cantava ao céu anil,
Trinca-ferro, gavião ligeiro,
Gralha azul em voo altaneiro,
Na sombra, um tempo de união,
Que aquecia forte o coração.
Na mata, a força da criação,
Com bicho, perfume e folhagem no chão.
Tuas casas eram memória viva,
Da carroça, do moinho e da lida,
Tinha o monjolo batendo na água,
Com seu som que no tempo se alaga,
Majorna, pilão, chão de galpão,
Guardavam histórias do coração.
Os bichos no pátio eram flor,
Enfeitavam a entrada com amor,
Galinhas, cachorros e gatinhos,
Entre as cercas e os caminhos,
Era simples, mas era mansão,
Com riqueza na alma e no coração.
Mas hoje, me bate a saudade,
Do teu tempo de felicidade.
Ainda escuto o riso, o refrão,
Das crianças no mesmo chão,
Mas o resto ficou na lembrança,
Na rima, no verso, na esperança.
Eterna será tua canção,
Arroio querido do meu coração.
Se tudo mudou, se o tempo levou,
A memória em mim sempre ficou.
E assim declamo, com devoção:
Salve, salve, o Arroio do Portão!
Comentários
É muito gostoso homenagear um pedaço de chão onde se vive ou aonde vivemos com um belo poema!
Lorde Égamo | 09/04/2025 ás 16:59 Responder Comentários