Arrebatamento
Prosa Poética | 2025 - FEVEREIRO - Corações em chamas: poesias e histórias de conexão | Romeu DonattiPublicado em 03 de Fevereiro de 2025 ás 19h 32min
Alice, que já conhecia a dor do tempo e a ausência do toque, viu-se, de repente, incendiada por uma paixão que parecia desafiar os anos. Não esperava mais, não buscava mais, mas o amor chegou como uma flecha certeira, rasgando a quietude de sua vida madura. Seus olhos, já cansados da monotonia e da monocromia do mundo, brilharam novamente, refletindo nele a promessa de algo que lhe queimava e preenchia.
Foi arrebatador. Foi perturbador. Foi transformador. Há muito Alice não sentia tais sensações. Há muito não se sentia viva. Há muito não sentia o corpo estremecer, as mãos trêmulas, o mordiscar dos lábios, a paixão pulsando dentro de si, as borboletas no estômago, os calafrios, os arrepios, as palpitações, a cabeça nas nuvens e o coração na boca.
Começou a vestir-se de sol, de luz, de claridade para si e para o mundo. Sim, porque Alice queria que o mundo soubesse que o amor lhe tocara de maneira nevrálgica. E sim, seria inconsequente, imprudente, impulsiva, estouvada. Tudo em nome daquele amor que lhe estufava e mal cabia no peito. Não havia reservas, olhares reprovadores, convenções ou obstáculos que pudessem afastá-la da felicidade outra vez.
Breno surgiu não como um novo homem, mas como uma chama antiga, reacendida nas profundezas dela, tocando lugares que Alice julgava intangíveis e inimagináveis. Não havia espaço para dúvidas. Ressalvas. Restrições. Senões. Angústias. O amor não era mais um conto ou um devaneio; era desejo urgente e necessário, fúria que inflamava e consumia tudo ao seu redor.
Entre Alice e Breno não havia tempo. O passado parecia ter sido apenas um prelúdio para a intensidade daquele encontro. Eles se devoravam sem pressa, sabendo que a vida não lhes daria outra chance. Alice seria tudo o que sempre soubera que poderia ser. A mesmice de sua vida havia sido banida e dilacerada pela inusitada intensidade daquele sentimento, e ela, que antes vivia entre os tons de cinza e negro, bordava de luz, fogo e múltiplas cores as filigranas de seu coração.
Sentia-se adolescente novamente, à beira de experimentar o primeiro beijo, mas agora com uma sabedoria que só o tempo poderia oferecer. O amor havia tocado suas fibras mais profundas e, ao fazer isso, Alice encontrara a si mesma, despida de seus medos e limitações e pronta para uma vida inteira de gozo e felicidade.