Antenor de Vida e Sonho
Poemas | Antologia Clube da poesia e declamação gaúcha | JOSETI GOMESPublicado em 02 de Novembro de 2025 ás 22h 56min
ANTENOR DE VIDA E SONHO
Joseti Gomes
Antenor fechou os olhos
de ver o que ninguém via.
Muita coisa lhe doía
feito pedra no sapato.
Antenor nasceu no mato.
Nunca atirou uma pedra.
Jamais feriu a palavra.
A terra que ele plantava
tinha cheiro de esperança.
Não veio pra dar conselhos.
Não sabia domar patas.
Jamais jogara das cartas
que rotularam campeões.
Antenor, um homem puro
que não comprava fiado,
pagou o preço dobrado
por ser humilde demais.
Antenor simples, rapaz.
Fechou os olhos de outono
no ranchinho encabulado.
A Carolina, ao seu lado,
na moldura da parede.
Carolina, flor do campo!
Carolina, em seus encantos,
cobriu a boca da fome
enquanto o braço do homem
cansava junto da enxada.
Antenor não foi herói.
Antenor não foi campeão.
Antenor, sem intenção,
foi somente um sonhador.
Plantou e colheu da terra.
Nunca vendeu sementes.
Não deu co’a língua nos dentes
quando o compadre pecou.
Antenor nunca julgou!
Antenor nunca foi santo.
Trazia junto aos remendos
um patuá e um juramento:
honrar o nome do pai!
Quando chegou sua hora,
Antenor não viu mais nada.
Deixou a terra lavrada
num tempo duro de frio.
Antenor foi só um sonho.
Antenor nunca existiu!