Ancestralidade: O que recebemos e o que deixaremos

Desenvolvimento pessoal | Carlos Roberto Ribeiro
Publicado em 14 de Outubro de 2024 ás 10h 42min

Pelo que nossos ancestrais suportaram, devemos à história uma resposta.

 

Se hoje estamos aqui, se alcançamos o que temos, é porque eles pagaram um preço incalculável. Nossos ancestrais suportaram a dor da escravização, a humilhação de serem aviltados, a violência da separação brutal de suas famílias — mães, pais, irmãos, filhos despedaçados.

 

Eles pagaram com suas vidas, com suas peles laceradas pelo açoite, seus corpos violentados, mutilados, assassinados. Tiraram-lhes a dignidade, arrancaram-lhes a cultura, silenciaram seus idiomas e adoeceram suas almas. Eles enfrentaram não apenas a violência física, mas o aniquilamento de tudo o que eram — mente, espírito e identidade.

 

Diante de tamanha herança de luta e resistência, não temos o direito de nos calar. Não podemos permitir que seus sacrifícios tenham sido em vão.

 

Sim, é possível que estejamos mergulhados em uma zona de conforto — e quem pode nos culpar? Também fomos e continuamos a ser violados, desprovidos de nossos direitos fundamentais, oprimidos por um sistema que nos sufoca. O racismo estrutural, institucional, sistêmico nos submete a uma constante luta pela sobrevivência. Para manter nossa sanidade física, mental e econômica, muitas vezes sublimamos nossa dor, silenciamos nosso sofrimento, toleramos a subalternidade e o preconceito que nos são impostos.

 

Mas chega. Basta.

 

Precisamos encontrar forças na fraqueza, erguer-nos das cinzas como a ave Benu, símbolo do renascimento em nossa ancestralidade. Chegou a hora de gritarmos nossa liberdade — uma liberdade que, até hoje, nos tem sido negada. Não mais aceitaremos migalhas de justiça. Nosso grito será definitivo, um brado que ecoará por gerações, até que a justiça, a equidade e a reparação sejam, enfim, realidade.

 

Assim, somos chamados não apenas a lembrar, mas a agir. Cada um de nós, descendente do povo africano da diáspora, é o ancestral dos que virão, e nossa responsabilidade é monumental. O legado que deixamos é uma construção coletiva, tecida por nossas decisões, lutas e conquistas. É um chamado à responsabilidade que ecoa através dos séculos, uma convocação para honrarmos a dor de nossos antepassados, mas também a sua resiliência.

 

Hoje, temos a oportunidade de moldar um futuro onde as cicatrizes da injustiça não sejam mais um fardo, mas um testemunho de nossa luta por dignidade e respeito. O que faremos com essa herança? Que histórias contaremos para aqueles que ainda não nasceram? Se somos os frutos das sementes que nossos ancestrais plantaram, que frutos desejamos deixar para as gerações futuras?

 

Neste momento de reflexão, convido cada um de vocês, integrantes da diáspora africana, a assumir seu papel na construção de um legado de justiça e reparação. Que nossa voz se una em um clamor por mudança, que nossos atos ecoem nas vidas que ainda não conhecemos. Juntos, podemos transformar a dor em esperança, a luta em conquista. Que o futuro seja um espaço onde a equidade e o respeito prevaleçam, onde nossos filhos e netos possam viver em um mundo que reconhece e valoriza sua ancestralidade.

 

Nosso grito de liberdade não é um ato isolado; é um compromisso contínuo de sermos vigilantes e ativos na luta por justiça. Que nossas ações hoje sejam um farol de esperança para aqueles que virão, um legado que inspire e guie as próximas gerações na busca por um mundo mais justo.

 

O momento é agora. A responsabilidade é nossa.

 

 

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