Amanhecer
Contos | 2025 - AGOSTO - Ventos do tempo: Memórias e despedidas | Manoel R. LeitePublicado em 09 de Julho de 2025 ás 19h 07min
Aquela manhã o vento tocara o seu rosto de maneira diferente. No toque suave e frio que se fazia a sensação de um carinho não mais presente. Apenas a enorme semelhança de um lenço a secar as suas lágrimas de uma noite em claro, e choros de saudade, de dor e perda. Era assim que ela acordara naquela manhã - acordara apenas como força de expressão já que a cama, antes um refúgio no amor do aconchego tornara-se um misto de lembranças e desespero. Mas como pode um amor ter fim? Será que existe realmente um fim para o amor? Ou nunca fora amor? Ou simplesmente as diferenças e intransigências ultrapassara o limite do suportável? Essas e muitas outras indagações percorriam o pensamento confuso de Júlia.
Enquanto prepara o seu café arrumou de costume a mesa com duas xícaras, como um reflexo.
_ Para que isso Júlia, agora é só você! - afirmou a si mesma dando uma bronca em seu ato falho que revelava o desejo de não estar só.
Talvez nunca entenda o que aconteceu. Mas, a incansável necessidade de achar uma resposta mágica para aliviar seu sofrimento fosse o elixir da vida. Não sabendo que nenhuma resposta aplacaria sua dor. Afinal, respostas não fazem o tempo retroceder, não corrigem promessas não cumpridas. Cabia apenas seguir em frente tocar a sua vida.
Aquele café estava mais amargo do que de costume. Um gosto de adrenalina e fel se misturava a bebida tão relevante e tão reconfortante. Principalmente quando a companhia se fizera presente, mas mesmo quando esta estava distante tinha um gosto de zelo, de saudade.
Naquele instante o alarme do celular toca. Era hora de ir para o trabalho. Uma noite mal dormida, não seria a última, uma perca de sentido. Mas não poderia ficar mais ali naquela casa com tantas lembranças. Era hora de trabalhar, seguir a diante, e, sobreviver a mais um término de relacionamento.