Dizem que há laços que o tempo não apaga,
encontros marcados além da razão.
Olhares que se cruzam e, sem explicação,
reconhecem histórias escritas no coração.

Para Jung, as almas se buscam no tempo,
guiadas por arquétipos em seu caminhar.
A anima e o animus dançam nos sonhos,
revelando no outro o que falta encontrar.

No espelho da alma gêmea, o inconsciente grita,
mostrando sombras que tentamos negar.
E o verdadeiro amor não é só conforto,
mas o desafio de nos transformar.

Beck diria que muito projetamos,
no outro, crenças que aprendemos a ter.
Se espero ser salvo, me vejo em perigo,
se temo abandono, posso me perder.

O amor, então, não é destino ou sina,
mas um campo moldado por nossa visão.
E se ajusto os óculos da cognição,
encontro no outro minha exata versão.

Para Piaget, tudo se constrói,
e o amor não nasce pronto a brilhar.
É um processo de assimilação,
onde o outro nos ensina a mudar.

No amor infantil, a fusão e o apego,
mas na maturidade, um novo olhar.
Ajustamos esquemas, aprendemos a ver,
e amamos não só para receber, mas para dar.

Vigotski diria que o amor é diálogo,
nas trocas que a vida nos faz experimentar.
Pela zona proximal do afeto,
aprendemos com o outro a nos transformar.

Nenhuma alma gêmea vem pronta,
pois é no vínculo que a alma se faz.
A cultura molda o que entendemos por amor,
mas é no encontro que ele se refaz.

Freud talvez risse da ideia romântica,
e falasse do id em sua paixão.
O amor reflete o que reprimimos,
buscamos no outro nossa projeção.

Se há almas gêmeas, são moldadas no Édipo,
no amor que um dia nos fez desejar.
E no ciclo das repetições inconscientes,
revivemos padrões até os enfrentar.

Seria apenas um jogo da mente,
projeção do que queremos sentir?
Ou algo maior, invisível e forte,
nos unindo além do existir?

Talvez, no fim, não importe o nome,
se é destino, acaso ou missão.
O que conta é o que se sente,
o que pulsa no coração.

E quando enfim entendermos
que amar é mais do que ter,
descobriremos que almas gêmeas
são aquelas que ensinam a crescer.