Além do Horizonte, Dentro do Coração
Contos | Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas. | Silvia Dos Santos AlvesPublicado em 21 de Maio de 2025 ás 21h 58min
Ah, mamãe… sinto tanto a sua falta, especialmente nesses fins de tarde. O céu se veste de tons alaranjados, como um abraço quente, mas o seu lugar na cadeira de balanço permanece vazio. O café fumega na xícara, exalando um aroma que me envolve, trazendo consigo o som das nossas conversas sem pressa, os ecos dos seus conselhos e o calor do seu sorriso acolhedor.
Lembro-me de quando me ensinou a sentir a brisa suave que antecede a noite, aquela que carrega o perfume da terra úmida misturado ao doce aroma das flores do jardim. Você dizia que era o suspiro do dia se despedindo, preparando-se para o descanso. Como você adorava observar os pássaros voltando para seus ninhos—comentava sobre a beleza do céu em transição e sobre a certeza do reencontro.
Cada gole de café me transporta para aqueles momentos. Sinto o calor da sua mão sobre a minha, o aconchego da sua voz ao contar histórias da sua infância, seus sonhos e suas lutas. Você tinha uma sabedoria serena, mamãe, daquelas que transformavam dores em aprendizados e alegrias em celebrações.
Às vezes, fecho os olhos e quase consigo ouvir sua voz me chamando para jantar, o som das agulhas de tricô deslizando entre seus dedos habilidosos, o assobio baixinho enquanto cuidava das plantas. São essas lembranças que me sustentam, que aquecem meu coração diante da saudade que teima em existir.
O sol se esconde lentamente atrás da linha do horizonte, pintando o céu com pinceladas de rosa e roxo. A paisagem continua linda, mas incompleta sem você aqui para compartilhar. Sua ausência ressoa no vento, e eu me pergunto se, em algum lugar além dessas nuvens douradas, você ainda me observa, me escuta, me sente.
Sei que as memórias são um tesouro, e eu as guardo com carinho. Elas me confortam, me dão forças, mas hoje, nessa varanda tingida pelo crepúsculo e envolta pelo aroma do café, a saudade transborda.
Fecho os olhos e deixo meu coração falar, enviando um abraço imaginário carregado de amor, gratidão e esperança. Porque enquanto eu lembrar de você, mamãe, nunca estará longe. Nunca deixará de existir dentro de mim.
Livro: FRAGMENTOS DO PASSADO