Nova Iorque me recebeu no outono. Era meados de outubro e os dias eram frescos e periodicamente ventava muito, pra valer. Havia dias tempestuosos também. No geral, os dias eram bonitos e coloridos com as folhas em transformação. Eu admirava muito o cenário ao meu redor ao levar o bebê para passear de carrinho. As casas estavam ornamentadas com abóboras, fantasmas, lampiões e espantalhos avisando a todos que o Dia das Bruxas estava próximo! Num desses dias, advinha o que aconteceu?! Nós fomos parados por um carro pedindo instrução para achar um endereço. Pode acreditar! Na minha família eu sou a pessoa menos provável para fazer tal coisa! Eu tenho dificuldade com opostos, tipo direita e esquerda, quente e frio, etc. MAS eu me surpreendi ao instruir aquele motorista a encontrar seu destino desejado. Eu fiquei muito orgulhosa de mim mesmo! Ele me perguntou onde ficava “tal e tal” rua e eu sabia onde era. Eu expliquei direitinho pra ele e me sentindo muito bem em instruir um americano no caminho que ele devia tomar em seu próprio país! Era como se tivesse vindo todo longo caminho do meu país Brasil até ali para auxiliar aquela pessoa perdida a encontrar seu caminho. Missão cumprida!

Há uma outra experiência que eu tive em Nova Iorque que também me fez me sentir muito especial. Foi no dia de Ação de Graças, meu feriado favorito. Dois dias antes, a avó e o avô das crianças chegaram na casa para iluminá-la com felicidade. Esses avós eram do lado da mãe. O pai era um homem bem alto e a mãe era uma bonita e tradicional mulher americana. No dia anterior ao Dia de Ação de Graças, eu tinha pedido permissão à minha patroa para poder preparar-lhes um café da manhã no estilo do Brasil e ela consentiu. Assim, levantei bem cedo naquela manhã e fiz pão de queijo e café fresquinhos para eles. A cozinha ficou tomada por aquele cheiro característico. Ao servir-lhes o pão de queijo, o pai o experimentou e ficou muito emocionado e com lágrimas nos olhos. Ele nos contou que aquele “biscoito” o fez lembrar de algo que sua avó fazia em seu país de origem. Ele é da Rússia. Ele comeu pão de queijo brasileiro feito por uma babá brasileira na América como se tivesse comendo um banquete. Por toda a minha vida vou me lembrar de sua expressão de completa alegria, surpresa e satisfação.

O pai, digo o avô, se tornou o Homem do Peru. Ele passou o resto do dia preparando o peru para o Jantar de Ação de Graças. Quando toda a família, incluindo sua outra filha que era solteira, se reuniram em torno da mesa para a refeição - eles me ofereceram um lugar também. E o melhor ainda estava por vir. Eu era o motivo de gratidão do garoto de 6 anos. Ele agradeceu por eu ser sua babá porque, em sua opinião, eu o ajudei a se sentir bem na escola. Ele andava desmotivado porque alguns colegas estavam o chamando de “magricela” e isso o fazia se sentir pequeno.  Mas, eu tinha dito a ele para se defender dizendo: “Eu sou atlético, um garoto esportista, isso sim.” E ele realmente era porque seu pai praticava toda sorte de esportes com eles. Minhas palavras fizeram a diferença na sua situação. Maravilhoso! Eu fiquei completamente grata pela família que me acolheu em Nova Iorque e pelo dia de ação de graças.