A VIDA SEM ENERGIA ELÉTRICA EM PORTO ALEGRE DO NORTE- MT RELATO EM LITERATURA DE CORDEL
Cordel | Josivaldo Constantino dos SantosPublicado em 22 de Março de 2023 ás 16h 50min
A VIDA SEM ENERGIA ELÉTRICA EM PORTO ALEGRE DO NORTE- MT
RELATO EM LITERATURA DE CORDEL[1]
O relato que ora segue[1]
É uma história divertida
Lembranças de uma época
Que nunca foi esquecida
Fragmentos de memórias
Que contam muitas histórias
Que valorizam a vida.
Memórias, a mim contadas
Por um nobre professor
Edson Pereira Barbosa
Ilustríssimo doutor
Que na região viveu
De lá, nunca se esqueceu
E por seu povo, tem amor.
E a mim, como poeta
Coube, a história escutar
Ler o que foi enviado
Pra poder me inspirar
E com minha poesia
Que faço com maestria
Vou, em cordel transformar.
Vou contar minhas lembranças
Em Porto Alegre do Norte
Antes da energia elétrica
Ser pra todos um suporte
Era década de oitenta
E o povo da época aguenta
Por ser gente muito forte.
Pra começar, nessa época
Água encanada não havia
Era tirada do poço
Dessa forma se fazia
Um balde, por uma corda
Vinha cheio até a borda
Com um sarilho subia.
Quando o poço era profundo
E a força acabava
Pois o peso do sarilho
O braço não aguentava
A cabeça é quem sofria
Pois, pancada recebia
E um belo galo formava.
Água pra fazer comida
Para usar no dia a dia
Não estava na geladeira
Pois isso, não existia
Mas a gente tinha sorte
Ia direto ao pote
Para beber água fria.
Devido à dificuldade
Para a água retirar
Se utilizava o córrego
Para as roupas lavar
Pois, tirar água do poço
Exigia muito esforço
Para o sarilho puxar.
Lá no brejo do Pau seco
Ou no Rio Tapirapé
Um monte de lavadeiras
Com água acima do pé
Lavava roupa na mão
Era caseiro o sabão
Na dureza, mas com fé.
Pra famílias abastadas
E também para pensão
As mulheres trabalhavam
Lavando roupas na mão
Durante a semana inteira
A arte de lavadeira
Passou a ser profissão.
As roupas, após lavadas
Eram postas pra “quarar”
Por sobre os capinzais
Lá, elas iam secar
E para desencardir
A receita a seguir:
Com água quente esfregar.
O ferro de passar roupas
Muito grande e pesado
Cheio de brasa bem quente
Sacudido ou assoprado
Para as” brasas avivar”
Ou as cinzas retirar
Era um esforço danado.
Era preciso cuidado
Nessa arte tão singela
Pois ao assoprar as brasas
Era possível a sequela
Depois da brasa “avivar”
O perigo era queimar
E danificar a farpela.
Pra conservar alimentos
Tinha técnicas de montão
O leite após fervido
Ficava sobre o fogão
Depois que as lenhas queimavam
As “brasas vivas” ficavam
Mantendo a conservação.
Não havia desperdícios
Tudo era aproveitado
Manteiga, coalhada e queijo
Com o leite desnatado
Um requeijão de primeira
Essa, era a forma certeira
De tudo ser conservado.
E da mandioca colhida
Pra ser bem aproveitada
Se fazia o polvilho
Uma trabalheira danada
No sol, secava a farinha
E outra forma que tinha
É no forno, ser torrada.
As frutas da região
In Natura consumidas
Elas eram degustadas
Logo que eram colhidas
Se fazia doce em caldas
Licores, ou misturadas
Em cachaças produzidas.
Manga, caju e goiaba
Jenipapo, murici
A abóbora e a laranja
São fartura por aqui
São todas apreciadas
Muito bem aproveitadas
Pelas pessoas daqui.
Banha de porco, servia
Para as carnes, conservar
Parte virava linguiça
Ou posta ao sol pra secar
Depois que era salgada
Em carne de sol transformada
Pra família alimentar.
E com a carne de sol
Muitos pratos, se fazia
Carne seca com mandioca
Por “quibebe”, se conhecia
Carne seca com abobrinha
Outra delícia que tinha
Que todo mundo comia.
Carne seca com arroz
Era “Maria-Isabel”
Com inhame e com maxixe
Pra essa eu tiro o chapéu
Carne seca é divina
Com quase tudo combina
Uma delícia do céu.
E na cidade, quem quisesse
Comprar carne, deveria
Se levantar bem cedinho
Pois era uma correria
A carne logo acabava
Pois, o Capitão, só matava
Uma vaquinha por dia.
Pra comer carne de porco
Ela, só era encontrada
Lá no Açougue do Gordo
E era bem disputada
Tinha que chegar cedinho
E se enfiar de mansinho
Entre gente aglomerada.
Se alguém chegasse mais tarde
Não encontrava mais nada
Pois, muito antes das oito
A carne estava findada
Quem chegou cedo, comprou
Quem chegou tarde, voltou
Com a cara desanimada.
Com a carne amarrada
Em um barbante, na mão
A pessoa ia embora
Na maior satisfação
Se desse uma descuidada
A carne era roubada
Por um cachorro ladrão.
Com uma vara nos ombros
E galinhas penduradas
Amarradas pelos pés
Gritando pelas calçadas
La, ia um vendedor
Negociando com primor
Aves vivas e assustadas.
Gritava: “Olha a galinnnnha”!
Dona de casa corria
Escolhia uma, bem gorda
Matava e logo comia
E o resto que sobrava
No fogão a lenha deixava
Conservando pro outro dia.
Era comum as pessoas
Irem ao rio, pescar
Peixe fresco por um dia
E depois de “avizinhar”[2]
A sobra, era salgada
Muito bem armazenada
Pra na semana usar.
Se os peixes fossem grandes
Em mantas, eram cortados
E após esse processo
Todos eram bem salgados
Para os gatos não comer
Peixes menores, iam ser
Em arames pendurados.
Na cidade, os vendedores
Com peixes frescos passavam
Com caixas, em bicicletas
E as pessoas compravam
Lá, pelas dez da manhã
Era grande o afã
Pelos peixes que chegavam.
Os peixes da região
Mais comuns e com fartura
Piau, pacu e corvina
Para fritar na gordura
E um outro, bem pescado
Era o famoso pintado
Era alegria pura.
Para tostar o café
Se usava torradeira
Depois, era triturado
Dessa seguinte maneira:
Com um moinho manual
Uma tarefa braçal
Era grande a trabalheira.
A mamona, era posta
No terreiro ou na calçada
E lá, ficava no sol
Que era pra ser estalada
O óleo que dela extraia
Para remédios servia
Planta muito utilizada.
A criançada cuidava
Pras galinhas não cagar
Nas mamonas, que ao sol
Estavam pra estalar
A função era “tanger”
Por galinha pra correr
Todos tinham que ajudar.
Óleo anti-inflamatório
E um bom cicatrizante
Servia pra muitos fins
Também era bom laxante
Mas, não era comestível
Servia pra combustível
Pra lamparina brilhante.
As lamparinas serviam
Para a casa iluminar
Acessas com querosene
Com cheiro forte a deixar
Em casa, chique e fina
Era cera de parafina
Que a família ia usar.
Pra tomar banho no frio
Não havia animação
Era preciso esquentar
A água lá no fogão
Se isso não acontecia
Um incentivo surgia
Pro banho, não tomar não.
Um balde cheio de água
E um litro, pra tirar
Jogar na cabeça e corpo
Era, a forma de banhar
Criancinhas, noite ou dia
Entravam numa bacia
Para seu banho tomar.
Também, um balde suspenso
Com um espaço furado
Se abria, ou se fechava
Com uma alavanca ao lado
Servia como chuveiro
Despejava um aguaceiro
Deixava o “cabra” lavado.
Duas casinhas de tábuas
No quintal, para usar
Uma, para tomar banho
E o corpo todo lavar
Outra, com um piso, não fraco
No meio, tinha um buraco
Que era pra defecar.
E, depois da “obra” feita
Para poder se limpar
Muitos papeis de embrulhos
Na casinha, estavam lá.
Para a mãe, o pai e filho
Também sabugo de milho
Se costumava usar.
O problema do banheiro
Ser no quintal, afastado
Era que, se madrugada
Alguém ficasse apertado
Com uma desinteria
Pro banheiro, às pressas ia
E o escuro, era danado.
A noite, para urinar
Pra fora, mulher não ia
Sempre embaixo da cama
Um penico, ali havia
Só homem ia lá fora
Não importava a hora
Tanto a noite, e de dia.
“Comadre”, era outro nome
Que o penico recebia
E também, por urinol
Que pra urinar servia
Às mulheres e meninas
E crianças pequeninas
Pois, lá fora, ninguém ia.
Tinha menino medroso
Com medo de assombração
Pra ir ao banheiro a noite
Não ia sozinho não
Se desse uma caganeira
Acordava a casa inteira
Ia com o pai ou o irmão.
Para o entretenimento
E também, informação
O rádio, era bem presente
Na casa do cidadão
Em frente ao rádio de pilha
Ficava toda a família
Ouvindo com atenção.
Tinha a Rádio Difusora
De Goiânia, genial
A Nacional do Brasil
E a Rádio Brasil Central
AM, era a frequência
Todas, com muita audiência
Com programação legal.
Pelo rádio, se mandava
Recados para os parentes
Para amigos, e recebia-se
As notícias dos ausentes
Esse serviço prestado
Era muito utilizado
Contínuos, muito frequentes.
Se ouvia Frank Aguiar
Zé Bétio, Edelson Moura
E também Marcia Ferreira
Pela Rádio Difusora
E para a criancinha
Programa Tia Leninha
Com sua voz encantadora.
Para ralar a mandioca
O milho, e moer a cana
Se usava a bolandeira
Todo dia da semana
Uma grande roda dentada
Em um eixo movimentada
Uma engenhoca bacana.
Os produtores maiores
De maior potencial
E famílias com mais posses
Na fazenda, ou no quintal
Por serem mais abastados
Tinham engenhos puxados
Pela tração animal.
As ferramentas usadas
Para a carpintaria
Plaina, enxó, furadeira
E serrote, no dia a dia
Fabricados, todos a mão
Do habilidoso artesão
Essa, era a energia.
O concreto e a massa
Pra tijolos assentar
Era tudo feito à mão
Com enxada pra ajudar
A argila utilizada
Com os pés era amassada
Pra tijolos fabricar.
E sobre peças em ferro
Sempre era costumeiro
Pra fazer ou concertar
Era o Zezinho Ferreiro
Com sua forja bem quente
Um ferreiro competente
Porém, nada barateiro.
Os políticos, em comício
O padre na procissão
Falavam com as pessoas
Com um megafone na mão
Esse, era o jeito usado
Pra transmitir um recado
Para toda a multidão.
E bem no alto do prédio
Do comércio Alô Brasil
Na ponta de uma ripa
Um megafone surgiu
Música, anúncio e recado
Tudo era comunicado
Ao povo muito serviu.
Músicas de Luís Gonzaga
E de Amado Batista
Milionário e José Rico
Era grande essa lista
Quando a tarde findava
No megafone tocava
Atividade, bem quista.
João Mineiro e Marciano
Léo Canhoto e Robertinho
No megafone se ouvia
E o povo, tinha carinho
Ouvia com atenção
E com muita emoção
Esse som pelo caminho.
E o pastor da cidade
Essa ideia aprovou
Na Assembleia de Deus
Um megafone botou
Para o culto anunciar
E para os fiéis pregar
E nosso ouvido, aguentou.
E com o passar do tempo
Pelas ruas da cidade
Aparece um veículo
Muito usado, na verdade
Uma bicicleta de som
Que não saia do tom
Uma grande novidade.
Tinha quatro megafones
Mesa de som acoplada
Com bateria de carro
A mesa era energizada
Com a bike do “Cecé”
Movida a força do pé
A notícia estava dada.
Anúncios publicitários
Assuntos oficiais
E também religiosos
E outras notícias mais
Com “Cecé” de bicicleta
A informação era certa
Isso, era bom demais.
A geladeira era a gás
Pra quem tinha condição
Vitrola, movida a pilha
Pra se ouvir uma canção
Ou movida a bateria
De carro, que agonia
Pra fazer a ligação!
Em lugares com energia
Somente por gerador
O combustível, era o diesel
Muito barulho e fedor
Era difícil dormir
Com o ouvido a “zunir”
Pelo ronco do motor.
Lugares com geradores
Eram, lá no Bar Central
No posto de combustível
E também no hospital
Alô Brasil Supermercado
Que era um aglomerado
Um Centro Comercial.
Tinha duas oficinas
Em plena atividade
Do Japonês e Valdivino
Que geravam eletricidade
Produziam energia
E carregavam a bateria
De cada TV da cidade.
Pra carregar bateria
Era muito demorado
Em torno de quatro horas
Para ser finalizado
Para levar e buscar
Era costume pagar
Pra um menino, algum trocado.
Também, o Mirante Clube
Possuía gerador
Pois todo sábado à noite
Tinha um baile de primor
Era um baile bom danado
Se o “cabra” fosse animado
Lá, encontrava um amor.
O “conjunto”, era o “Som Livre”
E seu líder, era o Adão
Dono do Mirante Clube
E “Penera Gavião”
Do artista Alcymar Monteiro
Música para o baile inteiro
Gostosa animação.
O gerador do Bar Central
Funcionava todo dia
Pois, além de ser boteco
Era uma sorveteria
Um sorvete bem gelado
Naquele calor danado
Era a nossa alegria.
Na verdade, o hospital
Gerador, não possuía
A empresa Alô Brasil
Era quem lhe fornecia
E as dez horas desligava
Tudo no escuro ficava
Até o raiar do dia.
Se depois das dez da noite
O gerador fosse ligado
Gerava apreensão
Pois, ocorreu algo errado
Algo ruim aconteceu
Um paciente morreu
Já se ficava assustado.
Conta-se uma história
Sobre um professor, que tinha
Uma vitrola de pilha
E a levava pra escolinha
A notícia se espalha
Era uma escolinha de palha
Porém, muito ajeitadinha.
Essa escolinha ficava
Na beira do Tapirapé
E o recurso pedagógico
Usado com garra e fé
Discos do Luiz Gonzaga
E não havia aula vaga
Pedagógico arrasta pé.
Ouvindo as letras das músicas
Do querido Gonzagão
Desenvolviam leituras
Prestando muita atenção
Uma bela pedagogia
Que o professor exercia
Uma rica educação.
Na Escola Alexandre
Quirino de Souza, havia
Para as aulas do noturno
Um gerador de energia
Mas, em muita ocasião
Não havia aula não
Por causa de estripulia.
Alunos muito danados
Com preguiça de estudar
Na correia do motor
Graxa, iriam passar
A correia deslizava
E o gerador não pegava
Para casa, iam voltar.
Tirando esses lugares
Tudo era escuridão
Somente as casas mais chiques
Possuíam lampião
Conhecido por liquinho
Que clareava tudinho
Com um tom de amarelão.
As moradias mais simples
Tinham velas, lamparinas
Pois o lampião a gás
Era nas casas mais finas
E a noite, pra sair
Com lanterna tinha que ir
Pra namorar as meninas.
Em todas as bicicletas
Se fixava um cilibrim
Elas ficavam pesadas
Pra pedalar, era ruim
Sair a noite no escuro
Passava-se por esse apuro
Não tinha jeito, era assim.
As ruas, de terra pura
Poças de lama, buraco
Sempre a noite, alguém caia
Se estatelava igual sapo
A bicicleta pulava
O ciclista se machucava
De tanto pulo e sopapo.
Em Porto Alegre do Norte
Chega a antena de TV
Foi um evento esperado
Tinha que acontecer
Teve inauguração
E o povo com emoção
Saiu correndo pra ver.
O prefeito também veio
Para a inauguração
Pois a antena melhorava
Na TV, a transmissão
Foi muito bem recebida
Mesmo sem ser colorida
Era grande a apreciação.
Pra inaugurar a antena
Um churrasco foi servido
O povo se aglomerou
E foi grande o alarido
Pois, esse acontecimento
Foi a emoção do momento
E foi muito divertido.
Televisão preto e branco
Funcionava a bateria
Para assistir no vizinho
Era aquela correria
Quem tinha televisão
Tinha a satisfação
De ver tanta euforia.
Só se entrava descalço
O calçado, ficava fora
Ordem da dona da casa
Se obedecia na hora
A cena era bacana
Na porta muita havaiana
Até o povo ir embora.
E aqueles mais malandros
Davam uma observada
Trocavam a chinela velha
Por outra menos usada
Por descuido de percalço
Alguém voltava descalço
Pois a sua foi roubada.
Mas, havia outro jeito
De assistir o jornal
Para não entrar na casa
Tinha outra forma legal
A dona da casa, então
Pegava a televisão
E virava pro quintal.
A novela Corpo a Corpo
E também Roque Santeiro
Junto com a Roda de Fogo
Deixava o povo faceiro
Selva de Pedra também
Nos fazia muito bem
O povo, era noveleiro.
No Jornal Nacional
E nos jogos da Seleção
Enchia a casa de quem
Cedia a televisão
Parecia um cinema
Era bonito esse esquema
Era grande a diversão.
Então, os donos de bares
Compram TVs coloridas
Liberam pro futebol
E vendem muitas bebidas
A cor na televisão
Melhorava a visão
Coloria muitas vidas.
Quem curtia futebol
Ou queria namorar
O ponto para os encontros
Passa, então, a ser o bar
Tinha brigas de casais
Por ciúme e muito mais
Era bom estar por lá.
Lá, se apurava fuxico
Dívidas, iam cobrar
Política e futebol
São temas pra conversar
O povo ia conversando
Comendo e bebericando
E o bar a faturar.
Os vizinhos percebendo
Que TV, é bom negócio
Se juntaram entre si
Saíram todos do ócio
E pra comprar geradores
Por razoáveis valores
Iniciaram consórcio.
A energia elétrica
Finalmente, ela chegou
Era o auge do progresso
Que todo mundo esperou
Houve a inauguração
Do motor de luz, que então
A CEMAT[3] providenciou.
Com a energia elétrica
Veio a tecnologia
Hábitos da vida diária
Ela substituía
Chega a máquina de lavar
Geladeira pra conservar
A vida, melhoraria?
Chegam os eletrodomésticos
Causando revolução
Brincadeira de criança
Genuína diversão
Foi ficando para traz
E não se brincava mais
Devido à televisão.
Banhos no rio, no brejo
E na represa também
Foram ficando escassos
Quase não tinha ninguém
Disposto a ir nadar
De pique-esconde brincar
Pois, isso, já não convém.
Antes, para o futebol
Haviam, muitos campinhos
Feitos na improvisação
Nos terrenos dos vizinhos
Quando a energia surgiu
O futebol diminuiu
Os campos ficaram sozinhos.
Estranhamente, as pessoas
Deixaram de se encontrar
Sentar em frente das casas
Com o vizinho prosear
Causar grande sensação
Com histórias de assombração
Que eram de arrepiar.
Carne de sol, virou luxo
Agora, só congelada
Quando se faz pra vender
O preço, é uma facada
Poço d’água se acabou
Pois o progresso chegou
Agora, é água encanada.
No rio, ninguém se banha
O brejinho? Abandonado!
Apareceu até dono
E o espaço foi cercado
Esse é o preço do progresso
Ou será um retrocesso?
Será que estou enganado?
Tia Leninha acabou
Pois a Xuxa apareceu
E a nossa Márcia Ferreira
Para as atrizes perdeu
Rádio, é só recordação
Agora, é televisão
Tecnologia venceu.
Crianças, não vão pra rua
Pro campinho, ou pra brincar
Ficam trancadas no quarto
Com videogames e celular
Já não se enturmam mais
Só por redes sociais
Ficou chato pra danar!
Essa tecnologia
Que chegou para ficar
Desalojando costumes
Pondo outros no lugar
Ficou melhor pra viver?
Você sabe responder?
Fico a me questionar.
Nossa história terminou
Mas, há muito o que contar
Então, eu, como poeta
Um desafio vou lançar
Ao povo da região
Ponha a memória em ação
Pra essa história ampliar.
[1] Esta narrativa poética, está apresentada em estrofes de 7 versos (septilhas, ou setenas), com 7 sílabas poéticas que são diferentes das sílabas gramaticais. Apresenta a seguinte estrutura poética: A1, B2, C3, B4, D5, D6, B7, ou seja, o 2º verso rima com o 4º e o 7º; o 5º verso rima com o 6º. O 1º e o 3º versos, não rimam; são considerados versos brancos, porém, dão suporte à narrativa.
[2] Repartir com os vizinhos.
[3] Centrais Elétricas de Mato Grosso.
[1] Este relato, ora apresentado em Literatura de Cordel, tem como base, as memórias escritas pelo Prof. Dr. Edson Pereira Barbosa, apresentadas a este poeta/cordelista para a versão em Literatura de Cordel.
Comentários
Parabéns, poeta! Uma narrativa, uma história contada em cordel, mui lindo! Bela também é a homenagem que presta à cidade de Porto Alegre do Norte-MT.
Enoque Gabriel | 22/03/2023 ás 22:36 Responder ComentáriosComo Portoalegrense nato, digo que fico maravilhado com a capacidade desta poesia nos envolver nas memórias de um tempo que ficou para tras e que tanto sentimos falta. Obrigado Dr. Josivaldo pela escrita deste cordel. Parabéns pelo talento.
Gleusdon Dias Guimarães | 23/03/2023 ás 10:40 Responder ComentáriosAdorei!!!!! Conseguiu pôr em verso tá tá história … Ah, que saudades eu tenho da região … fiquei muito alegre ao ler. Sobre o futuro? Quem sabe… acompanhemos o desenrolar da vida enquanto podemos.
Heloísa | 23/03/2023 ás 11:50 Responder ComentáriosBela narrativa! A memória mantém viva nossa identidade. Me vi criança, adolescente e mulher, logo que me casei e mudei para Porto Alegre do Norte. Que bom que existe nossas memórias e os poetas. Obrigada pelo presente. E parabéns pelo primorosa arte!
| 23/03/2023 ás 15:12 Responder ComentáriosBela narrativa! A memória mantém viva nossa identidade. Me vi criança, adolescente e mulher, logo que me casei e mudei para Porto Alegre do Norte. Que bom que existe nossas memórias e os poetas. Obrigada pelo presente. E parabéns pelo primorosa arte!
| 23/03/2023 ás 15:12 Responder ComentáriosBela história contada , traz lembranças do passado, umas boas, outras nem tanto, era trabalho muito pesado. Tudo era muito simples e tudo se aproveitava , mas era muito divertido. Famílias grandes tudo era aproveitado. Parabéns.
Laura Paulina | 25/03/2023 ás 15:49 Responder ComentáriosParabéns, incrível história
AMANDA MAZZEI | 26/03/2023 ás 15:01 Responder ComentáriosHistória incrível!
ROSIMEIRE VILARINHO | 15/05/2023 ás 21:30 Responder ComentáriosQue história incrível. Merece sim ser contada e apreciada. Trouxe-me lembranças da minha infância. Parabéns professor Edson e ao cordilista.
FABRICIA NATES DOS SANTOS GALVÃO | 21/06/2023 ás 15:58 Responder Comentários