A vida e seus ingredientes

Sempre acreditei que quando nascemos, já temos a missão de considerar nossa vida como uma grande bênção, uma bênção recheada de ingredientes deliciosos!

Se partirmos do pressuposto que nascemos para ser felizes, nessa vida abençoada, precisamos aprender desde muito novos o que é necessário fazer para se chegar nessa “tão doce felicidade”.

Cada dia, cada novo desafio, até as grandes decepções fazem parte da caminhada nessa longa estrada.

A vida não permite que sejamos felizes o tempo todo, isso é irreal. Talvez as pessoas confundam alegria com felicidade. Podemos sim ter muitos momentos de alegria total, porém, os momentos de tristeza, frustrações, desânimo também fazem parte desse caldeirão quente e cheio desafios.

Felicidade então é construção. Diária.

Podemos comparar a felicidade com o cozinhar. Uma nova receita tem seu início, fica boa por um tempo, mas depois precisamos mexer, acrescentar, tirar, modificar para ver aquela receita com novos olhos. Nesse novo momento, tudo pode parecer perfeito, mas podemos ter nesse percurso, um “ovo” estragado, um “fermento” vencido e tudo desanda, nada fica igual como era antes. É preciso rever, refazer o caminho, talvez acrescentar algo novo, mais elaborado, um creme, um acabamento melhor. Sempre um desafio novo. No término dessa nova receita, a realização vem plena, o corpo se enche de alegria e o prazer acompanha tudo isso, trazendo um bem-estar contagioso.

Há aqueles que amarão sua receita. Outros, nem tanto. Faz parte. O gosto e os sabores são pessoais.

Ouço alguns chefs dizerem que quando se cozinha, se coloca afeto e amor no que se faz.

Penso que a vida também é assim. Afetos feitos de laços firmes e fortes e outros que não chegam a se desenvolver, se dissolvem como sal na água. Sobra só o sabor, mais nada.

As vezes o amargo insiste em aparecer. O azedo vem para mudar tudo de lugar. São temperos que podemos modificar de acordo com nossa vontade. Podemos deixar tudo doce e suave ou podemos deixar tudo forte e condimentado.

Nem sempre conseguimos mudar “aquela” receita. Nada que se faça, melhora. Se acrescenta, não funciona, se tira, muda o sabor. Tem receitas que ficam como são, nem o tempo muda. Cabe a nós decidirmos se queremos ou não deixá-la no nosso cardápio.

A vida é um livro de receitas. Encontraremos algumas tão elaboradas e complexas que as vezes teremos vontade de desistir! Porém, o bom cozinheiro, insiste, transforma, recicla, acrescenta, inventa e nesse processo encontra o “ponto” ideal.

A vida é abençoada, assim como o alimento.

A cada acontecimento diário podemos acrescentar pitadas de reflexão. Retirar ou acrescentar mais doçura ou acidez.

A felicidade é uma receita em constante construção. Que possamos encontrar sempre um ponto de equilíbrio, para nunca salgar demais os nossos afetos, deixando-os sempre saborosos e doces, assim como tem que ser a vida...