A Trajetória e o Destino
Hoje bate em meu peito a pungência
Que lacera a minha"alma completa,
Porque vejo: não é mais dileta!...
E nem tem os resquícios do amor.
Afinal, ando sempre sozinho,
Não recebo atenção, alegria,
O muxoxo, o carinho que um dia
Me fizeram até ser cantor.
Oh, por que Jesus Cristo lembrei
Do pregresso, de tantos amores?
Eles todos trouxeram-me dores!...
E traumático assaz hoje estou:
Um partiu, mas depois descobri
A perfídia depois de dois anos
E o meu zelo de amor e os meus planos
Sucumbiram no mórbido show!
Eu levei esse trauma adiante,
Para os braços da linda pequena
Que me deu a coroa serena,
No começo do nosso namoro,
Mas depois a pequena virou
Uma cobra com muita peçonha,
Que ao lembrar chega passo vergonha,
Porque nunca escondi o meu choro.
Nesse lance de tanto veneno
Encontrei uma fada madrinha,
Ela disse querer ser só minha
E fazia de tudo por nós;
Ela deu-me um abraço apertado,
No cangote pulou, foi tão terno,
Que alegrou-me bem mais que falerno
E eu senti, sem soltar minha voz.
À primeira rajada de vento
Balançou o pensar dessa fada
Que largou-me, de mim não quis nada
E voou para os braços de alguém
Não lembrando do tronco e da lua,
Nosso amor, nossas juras, história...
Nem sequer quis guardar na memória
E, por isso me deu seu desdém.
Oh, quão triste eu vivi um decênio!...
Mas no meio de tanta tristeza
Veio a mim uma linda princesa,
Que me fez ser feliz novamente.
Era tanta paixão envolvida
Que eu me vi numa teia de aranha:
Ou eu fico com ela ou me arranha;
E eu queria ficar, felizmente.
Mas a dama de aquário é volátil
E fugiu, prosseguindo sozinha,
Como quem numa pipa da linha
E ela voa a perder-se de vista.
Eu fiquei novamente largado,
Eu fiquei novamente chorando
Ao querê-la de volta, mas quando
Percebi, ela estava na pista.
Agonia no peito eu senti,
Porque não cometera pecado,
Mas, contudo, por ela largado,
Muito punge fiquei a vagar:
Não queria ninguém para mim,
Companheira de tanta promessa...
Quem no lago profundo arremessa
O seu sonho sem mais se importar?
De repente, do nada, eu vos juro!
Que me veio uma dama dizendo:
- Desde a infância eu estava lhe vendo,
E lhe amava com tanto fervor!
O traído, o largado se viu
Um sortudo no meio do abismo:
"Oh, meu Deus isso não é um achismo?
Porque sinto de fato esse amor!"
E eu vivi esse amor tão maduro,
Consciente, não tinha pecado...
O meu tudo - garanto! - foi dado,
Na esperança de ter um retorno.
Mas a sorte passou bem distante,
O dinheiro não veio em meu bolso
E, jogou-me no hostil calabouço,
Nem sequer deu a mim um estorno.
Novamente a perfídia me trouxe
A coroa de tal vitupério,
Eu já tinha por que ser mais sério
E agredi a infeliz traidora!
Eu queria demais que sentisse
O tamanho da minha aflição,
A facada que em meu coração
Fez minh'alma ser tão sofredora!
Na aflição de noitadas escuras,
Nesta alcova sem fúlgidos raios,
Quase morro de tantos desmaios,
Porque aberta ficou a ferida;
De repente uma preta me chama,
Diz a mim que deseja ser fã
E a levei, sem pensar, pra o divã,
Desejando chamá-la de vida.
Oh, que grande tolice essa minha!
Não tem como chamar mais ninguém
De paixão ou de amor se esse alguém
Não faz parte do meu coração,
Se o meu peito com pus tão nojento
Guarda em si o pior sentimento,
Numa alcova de grande aflição.
E, hoje eu olho o passado plangente,
Desejando um abraço sincero;
Que tolice!... De fato eu espero
A alegria gostosa que quis.
Só que olhando esse insano trajeto,
Que o meu tudo pra alguém foi doado
Eu pranteio, confesso, magoado,
Pois não sei fazer dama feliz!
Afinal, as mulheres que amei
Não quiseram, enfim, meu amor,
Rejeitaram passar pelo ardor
De uma luta feroz, mas comigo;
Não quiseram se dar para mim
Na alegria, tristeza, bonança...
E, hoje sei!... Ora não sou criança!...
Meu destino é sofrer tal castigo!
Cairo Pereira
Comentários
O amor é assim mesmo uma sofrência, um dia chega a bonança, parabéns pelo maravilhoso poema!
Edbento | 12/01/2023 ás 10:03 Responder ComentáriosÉ, poeta, que sofrimento! A dor de amor queima, arde, sufoca e mata!
Enoque Gabriel | 12/01/2023 ás 22:51 Responder ComentáriosComo é difícil o amor! Esse sentimento tão nobre que nos torna tão vulneráveis...Assim como o poeta nos escreve é a vida nua e crua. As juras são falsas, os sentimentos mesquinhos. E pôr um ponto final é só uma questão de tempo, infelizmente. Lindo seu poema!
Isolti | 19/01/2023 ás 05:49 Responder Comentários