A SUGAR BABY DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Contos | Valcastilho
Publicado em 21 de Abril de 2024 ás 12h 22min

Leonor e Junior são promotores de justiça estadual, ela membro de uma tradicional clã do judiciário de São Paulo; o Bisavô tinha sido desembargador, o pai juiz federal e a mãe promotora de justiça. Ele, filho de Fazendeiros produtores de commodities agrícolas no Estado de Mato Grosso, cuja influência do soja-dólar e um casamento com o clã certa, conseguiram uma vaga de Promotor de Justiça Estadual para o filho. Não que ele não tivesse competência para passar no concurso, mas, conseguir a sonhada vaga, só o Deus da Influência é capaz de conceder com agilidade.

 Casados há oito anos, as duas famílias esperavam um neto, mas, nada, todos os meses era àquela mesma frustração. Quando a frustração se transformou em brigas abissais, a mãe do mancebo promotor, pediu que o pai interferisse, que conseguisse uma transferência para um deles, assim, só se veriam nos finais de semana e a tensão diminuiria.

Dito e feito, o pai conversou com um deputado, que conversou com o procurador-geral de justiça, que conversou com o presidente do Conselho Nacional do Ministério Público e, pronto, arrumaram uma vaga de assessor para o infértil promotor.

Acabaram-se, temporariamente, as brigas. Mas, logo, Leonor teve a brilhante ideia de iniciar mais um tratamento hormonal para engravidar. E, Junior passou a viver na ponte área para poder copular com a esposa, toda vez, que os hormônios chegavam no ápice.

Leonor, típica mulher branca de olhos azuis da classe média brasileira, tinha certeza, que era uma lady, uma imperatriz do Ministério Público, nunca entrou num posto de saúde do SUS, nem para tomar vacina, nunca estudou em escola pública, nunca precisou usar o transporte coletivo.  Sua falta de trato com os servidores, fazia com que ninguém ficasse trabalhando com ela por muito tempo, os servidores de carreira pediam transferência da comarca, e os estagiários desistiam do estágio. E, agora, com os hormônios à flor da pele, as coisas, que já não eram boas, ficaram muito pior.

Sem estagiários há alguns dias, Leonor reclamou com a sogra, que mais uma vez falou com o marido, que precisavam arrumar um estagiário novo para a nora, quem sabe, assim, dava uma trégua e melhorava o convívio. O sogro, por sua vez, viu na oportunidade de atender o pedido da esposa, ajudar um amigo, cuja filha precisava de um estágio.

No outro dia, de manhã, apareceu na promotoria de justiça Flaviana, com o seu vasto currículo de estagiária, cuja referência era supostamente ser filha, de um produtor de soja local. A moça, era uma típica garota da atualidade, peitos de silicone, colocados na semana seguinte que completou dezoito anos, cílios postiços, maquiagem impecável, português sofrível, gosto musical duvidoso e nenhum talento para o direito.

Como há muito tempo, que não aparecia ninguém disposto a estagiar com ela, resolveu fazer vista grossa aos inúmeros atributos, e contratá-la, afinal, tinha sido uma indicação dos sogros, só fez a observação: Que no expediente utilizasse saias ao menos, em cima dos joelhos e, que a blusa cobrisse os peitos, que teimavam em querer saltar da blusa, provavelmente, uns dois, manequim menor do que ela estava usando.

Assim, começou estagiar Flaviana, que passava mais o tempo fazendo self e curtido postagens no Instagram que, efetivamente, ajudando a assistente ministerial da Promotora Leonor.

A orientação para que Flaviana, se vestisse de forma austera durou, pouquíssimo tempo, até porque, Leonor passou a emendar um atestado médico, atrás do outro, obrigando, inclusive, seus assistentes irem até sua casa para que ela assinasse pareceres e petições urgentes.

 Assim, Flaviana se tornou a sensação do Ministério Público, cuja diversão predileta dos demais estagiários e servidores, era imitar os seus trejeitos, cara e bocas que fazia ao tirar suas selfs em cada cantinho do Ministério Público, que lhe sugerisse muitos likes.

Um dia desses, em que, finalmente, Leonor resolveu trabalhar, Junior havia chegado de Brasília e foi direto ao Ministério Público, buscar Leonor, quando, então, Junior e Flaviana se encontraram, o Promotor ficou encantado, gaguejou ao ser apresentado por Leonor, a sua estagiária.

Naquela semana, Junior não voltou para Brasília, e passou a ir buscar Leonor, uma ou duas horas antes do final do expediente, assim, ficava trocando experiencia com os colegas promotores, ou na cozinha tomando café, ou até mesmo, ajudando Leonor, sempre arrumando um pretexto para chamar Flaviana no gabinete. Não precisou muito, para as trocas de olhar começarem entre os dois. Um fogo, consumia Junior, que constantemente pensava: essa diaba, mexe comigo de um jeito. Enquanto isso, Flaviana tinha plena consciência do que estava fazendo e causando no promotor, marido de sua chefe.

No fim de semana, o papai de Flaviana, vinha visitá-la e entre um presente e outro, entre um restaurante e outro, pediu para a bebê, achar uma forma de conversar com a Promotora Leonor para que ela olhasse com carinhos para uma autuação ambiental de uma de suas fazendas desmatadas sem licenciamento ambiental, que ele tinha recebido informação privilegiada de uma servidora da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que já estava nas mãos da promotora de meio ambiente.

Flaviana, não perdeu a oportunidade:

_ Tudo bem, papito, acharei uma forma de resolver o problema!

Muito bem, respondeu o papai, todo orgulhoso do rebento:

_ Oh, oh, calma aí Papito, mas, se eu conseguir fazer com que minha chefe arquive o Inquérito, vou querer de presente, pelo mérito, uma Pulseira Juste un Clou, ouro branco 18K, que você não quis comprar para mim, no aeroporto de Miami City.

_ Ah, por favor Flaviana, aquele prego torcido, que custa quase setenta mil reais!

_ Papito é pegar ou largar, parece que não conhece sua baby, trabalho melhor quando tenho um incentivo.

_ Está bem Flaviana, se você conseguir com que a Promotora arquive o inquérito lá da fazenda, te dou o tal do prego torcido, que tanto quer!

Flaviana, pulou no pescoço do papai, dando gritinhos histéricos de felicidade, enquanto sapateava, agarrada no braço do velho fazendeiro.

Trato feito, assim, papai se livraria da multa de milhões e Flaviana poderia desfilar na Faculdade com uma legítima Cartier.

Pensando dia e noite, como a Cartier ficaria linda em seu braço, Flaviana pensou que o jeito mais fácil de conseguir o arquivamento do Inquérito Ambiental do papai, seria através da paixonite do marido, Junior. 

Muito astuta, descobriu da boca da própria Leonor que o marido jogava tênis no Clube da cidade, todas as quartas e sextas-feiras. Então, ficou de olho na entrada e saída do clube, e quando percebeu que Junior ia saindo de carro, saltou na frente do carro, caindo no chão. Dissimulada, tentou levantar pedindo desculpa por sua distração, que não permitiu que visse o carro saindo do clube.

Junior, por sua vez, acreditando ter tirado a sorte grande, viu a oportunidade de levá-la até o pronto-socorro e em seguida para a casa, assim, sabia onde mora a ninfeta que habitava seus sonhos.

No portão da Quitinete, Flaviana, fingindo estar com sono, devido ao analgésico, se despediu do pasmado promotor, com um beijo de leve nos lábios, em seguida pedindo desculpa, e dizendo que foi sem querer, que estava meio tonta devido ao medicamento.

Ao virar a esquina, Junior deu um sorriso safado, e disse para si, está no papo, enquanto, Flaviana entrava no apartamento, e encostada na porta, faz uma cara de malandra e dizia: caiu pato!

E, assim começou o jogo. Junior passou a vir de Brasília, com mais frequência, e com mais frequência ainda, passava hora na companhia da esposa, discutindo as causas mais complicadas que aparecia, tanto sugestões, ajudando analisar documentos, algumas vezes, chegou mesmo a ditar petições enquanto, Flaviana digitava três palavras a cada cinco minutos.

À noite Junior, mentia para Leonor e ia buscar Flaviana na faculdade para levá-la para à casa, não levou muitas semanas, e um site de fofoca da cidade, embolsou cem mil reais do promotor, para não publicar foto dos dois aos amassos dentro do carro, numa estradinha vicinal.

Mas, Flaviana era profissional e, sua meta não era o pobre do promotor apaixonado, era a sua Cartier. Sabia, que tinha que colocá-lo a ponto de bala, para isso, não poderia dar a ele o que mais queria, ou seja, muito amasso, mas, sem transar. Pois, caso a transa acontecesse, poderia não resultar como o esperado, e lá se ia, a chance de conseguir o arquivamento do processo de papai e, de quebra, adeus a sua pulseira ouro branco 18 quilates. 

Uma noite dessas de amassos, adolescente, Flaviana parou com as cariciais e mãos bobas do nada, mudou o semblante e disse que estava preocupada com seu pai.

 _ Ah, estou sem clima hoje, estou muito preocupada com Papi!

 _ O que aconteceu com ele, baby?

 _ Foi, injustamente, autuado pela SEMA/MT, sob a acusação de ter desmatado uma das fazendas dele, sem autorização ambiental.

 _ E, ele tem licenciamento?

 _ Ah, amores, não sei, mas se Papi disse que é injusto, eu acredito, e você, se realmente, quer ter algo sério comigo, por certo, deve acreditar em mim!

 _ Baby, não é bem assim!

 _ Ah, é, sim, meu Papi, não mentiria para mim, e se não vai acreditar em mim, na minha família, nem adianta continuarmos.

 Lhe disse, Flaviana decidida, desceu do carro, entrou em casa, sem olhar para trás.

 Junior, foi embora em seguida, desolado, mais uma vez, não lograra êxito em transar com a Baby. Que pequena tinhosa, pensou ele, mais tarde, deitado ao lado de Leonor que dormia serenamente.

 Inquieto, ainda excitado pelos ocorridos da noite, levantou pé-por-pé, e do escritório ligou para Flaviana, precisava falar com ela, que havia decido ajudá-la. Mas, ela pegou o aparelho de sua mesinha de cabeceira, olhou, viu que era ele, deu um sorriso safado, devolveu o aparelho sob a mesa, sem o atender.

 E, seguiu-se assim, pelos próximos três dias, Junior voltou para Brasília, mais uma vez, sem transar com Flaviana, irritado com os caprichos de Leonor e sem muita certeza do que deveria fazer da vida.

 Na quarta-feira, sem avisar, Junior voltou de Brasília, disposto a resolver o problema da autuação ambiental de seu futuro sogro. Foi até a casa de seu pai e pediu para o pai, que chamasse o amigo para uma reunião, queria entender melhor qual era o problema.

 O Fazendeiro chegou e, como sempre, disse que estava sendo vítima do órgão ambiental, que havia protocolado há mais de seis meses um pedido para a devida limpeza da área, como a licença estava demorando a sair, e ele precisava aproveitar a janela do plantio, limpou sem a licença ambiental mesmo. Assim, quando os fiscais chegaram na área, viram que a vegetação não mais existia, fizeram uma autuação e agora, virou um Inquérito Civil, que, se baseado no valor da multa, a ação civil para reparação do dano ficará na casa dos milhões, isso sem contar no embargo ambiental imposto, que impede a exportação de meus grãos num raio de cem quilômetros da autuação.  

 Junior disse que tinha entendido. Confirmou que o Inquérito Civil estava sob responsabilidade de sua esposa, e que veria o que poderia fazer, para arquivar o Inquérito.

 Para iniciar o serviço de convencimento de Leonor, contactou um conhecido promotor de eventos da cidade, e pediu que o ajudasse com a preparação de uma noite romântica em sua casa, para Leonor.

 Ao chegar em casa, Leonor se deparou com balões, caminho com pétalas de rosa até a banheira, jantar preparado pela melhor chefe da cidade, e um lindo colar de pérolas, e um marido romântico e interessado no que ela tinha para dizer, como não via desde a época em que eram namorados.

  A noite foi perfeita, jantaram, dançaram, transaram e não brigaram. Leonor amanheceu em estado de graça, como era quinta-feira, pensando em continuar o clima de romance, ligou para a sua assessora e disse que não iria trabalhar, que tiraria o dia para passar em família. Não era o que Junior tinha em mente, pois, agoniava contar para Flaviana, que iria ajudá-la com o Inquérito Civil, que tanto incomodava o seu pai, e assim, talvez conseguisse avançar o romance para algo mais carnal, do que apenas excitações por cima da roupa.

 Animada, Leonor convenceu Junior a passar o final de semana no Lago do Manso, para onde seguiram de carro pela BR163, uma viagem estimada de cinco horas, oportunidade, mas que perfeita para Junior dar início à conversa sobre o Inquérito Civil, objeto de todo o seu romantismo repentino. Leonor, que só pensava em fecundação, viu na mudança do marido, um sinal de que ele teria entendido, o quanto, engravidar para ela era importante. Assim, concordou com tudo que falava o marido, inclusive, que o fazendeiro estava sofrendo perseguição do órgão ambiental, primeiro, porque não analisaram o pedido de licença, depois, o autuaram sob a alegação de desmatamento ilegal.

 No domingo, Leonor deixou Junior no aeroporto, para que ele voltasse para Brasília, não antes, de ter garantido que arquivaria o Inquérito Civil do perseguido fazendeiro.

 Segunda-feira, pediu para que sua assistente ministerial, lhe trouxesse o Inquérito Civil ambiental em questão, e ela mesma, em minutos, redigiu o despacho de arquivamento do inquérito, fazendo a juntada no processo, e encaminhado uma cópia para o marido, para que assim, se mantivesse o clima de romance.

  Ao receber em seu aplicativo, a cópia do despacho, Junior imediatamente, encaminhou o arquivamento para Flaviana, com os seguintes dizeres: viu Baby como faço tudo por você, sábado, quero te ver sem falta!

 Flaviana, por sua vez, antes de responder ao pobre do promotor apaixonado, reenviou o despacho do arquivamento do Inquérito para o seu “dad”, acompanhada da seguinte cobrança: Papi segue o arquivamento, quero minha Juste un Clou, ouro branco 18K.

 Na sexta-feira, enquanto Leonor saia mais cedo da promotoria para arrumar os cabelos e as unhas para aguardar Junior; Flaviana pensava que dessa vez, não conseguiria desvencilhar do apaixonado promotor, que a transa seria inevitável, afinal de contas, ele tinha feito a parte dele, então, era justa a recompensa.

 Neste dia, Junior arrumou uma carona num voo particular, no avião de um fazendeiro da região, que tinha ido a Brasília fazer lobby, não podia esperar, pois o voo só chegaria de madrugada, e ele tinha que resolver o zero-a-zero com Flaviana, quanto antes.

 Ao descer no aeroporto, mal se despediu do fazendeiro, pegou o primeiro táxi, que encontrou e foi direto para o Portão da Faculdade, o tesão era tão grande, que em momento algum, lembrou da esposa, ou se preocupou com a possibilidade que alguém o visse esperando a moçoila no portão da Faculdade.

 Quinze, para as onze hora da noite, apareceu Flaviana no portão, a essa altura, um Uber já os esperava, então, rumaram para a quitinete de Flaviana. Adentrando no ambiente, Junior foi para cima de Flaviana, lhe arrancou a blusa, a jogou no sofá e começou a lhe tirar a calça jeans, estava alucinado, não lembrava há quanto tempo não se sentia assim, voz no sexo.

 A empolgação do pobre promotor era tão grande, que ele não percebeu que o entusiasmo por parte de Flaviana, não era o mesmo. Na cabeça dele, ele estava arrasando, acabando com a moça, que depois dessa noite, por certo, não iria querer outro homem; enquanto isso, Flaviana, por sua vez, pensava tomara que goze logo, agora, entendo por que a mulher dele não engravida, o homem parece que está transando com ele mesmo, é mais ego que ação.

 Era mais de uma hora da manhã, quando finalmente, esgotado os esforços físicos, Junior decidiu ir para a casa. Ao abrir a porta, deparou com Leonor, acordada, sentada na escada, dos seus olhos saiam faísca de fogo:

 _ Junior, onde você estava, não, não me responda, eu sei que você veio num voo particular, e aterrissou no aeroporto, era por volta das vinte e um horas e trinta minutos, onde você estava?

 Disse Leonor aos berros.

 _ Oras Leonor, não me enche, estava por aí com os amigos!

 _ Que amigos? Liguei para todos, ninguém sabia de você!

 _ Leonor, estou cansado, com sono, vou dormir, amanhã conversamos com mais calma, você está descontrolada.

   Retrucou Junior tentando passar por ela, que permanecia sentada na escada. Irritada, Leonor lhe puxou a sua perna, e tentou esbofetear o seu rosto, fazendo com Junior perdesse a paciência. Então, ele se equilibrou agarrando-se no corrimão; já em pé, levantou Leonor pelos braços, lhe deu um chacoalhão e a mandou se tratar. Em seguida, subiu para a suíte, e entrou no banheiro para tomar um banho.

  Leonor, subiu furiosa atrás, abriu a gaveta da mesa de cabeceira, pegou sua pistola e abriu a porta do box, e apontou a arma para Junior. 

Junior, por sua vez, tendo conhecimento das fraquezas de Leonor, sabia que ela não teria coragem de atirar, foi em direção a ela, agarrou as mãos de Leonor segurando a arma junto e apertou contra seu peito, enquanto, gritava:

_ Vamos, seja mulher, atire Leonor, vamos, atire!

Leonor, assustada, começou a chorar e soltou a arma.

Então, Junior violento a retirou do banheiro a tapas, devido à água do chuveiro que umedeceu o ambiente, Leonor escorregou na porta, caindo no chão, descontrolado, Junior a ergue pelos braços, com força, a jogou sob a cama, pulou em cima dela, a prendendo com as pernas e o corpo, enquanto com as mãos, a bateu muito, lhe puxou os cabelos, após, cansado, enquanto ela soluçava na cama, ele vestiu uma roupa, colocou outras numa mala e saiu, deixando Leonor aos prantos.

 Leonor, chorou até adormecer, só acordando às  8h:00min, toda doida e cheia de hematomas, aturdida com o ocorrido, e sem nenhum amigo que pudesse se socorrer, na medida que, envergonhada, não admitia que alguma pessoa de seu convívio, de sua classe social, a visse naquela situação. Então, resolveu ligar para a sua assistente ministerial, pois, está exercia cargo de confiança de livre nomeação e exoneração, portanto, por medo de demissão, não abriria a boca.

 A servidora, chegou e adentrou à casa, pois, nem mesmo a porta da sala, o descontrolado marido promotor, fez questão de fechar, pé por pé a Assistente foi subindo as escadas, abriu a porta da suíte, e deu de cara com Leonor, entregue a sua própria desolação.

 Assustada, Ananda, a assistente Ministerial, pensou que a promotora tinha sofrido um assalto.

_ O que houve doutora, foi um assaltado, a senhora está bem, vamos chamar a polícia?

_ Cala a boca, Ananda e me ouça?

Ananda, desligou a chamada, e olhou para Leonor sem entender nada.

_ Que chamar a polícia, o que, ficou maluca, foi uma briga entre mim e o doutor!

_ Nossa doutora, agressão doméstica, vamos ligar para a delegacia de polícia, a senhora tem que pedir uma medida protetiva, da Lei Maria da Penha, a senhora está cheia de hematomas!

_ Cala a boca, e me escute, se eu quisesse ir parar numa delegacia de polícia de proteção a mulher, você acha, que já não teria chamado a delegada ao invés de você?

Ananda, ainda sem entender, fica estática na beira da cama, olhando o estado lastimável, que se encontrava a promotora de justiça.

_ Garota tonta, acha que vou dar motivo para essa sociedade hipócrita dessa cidade medíocre; que vou me somar a estatísticas de mulheres pobres; você quer, realmente, que eu me iguale a minha empregada, que apanha do marido todo final de semana. Não ouviu o que eu te disse, foi uma briga entre mim e o doutor Junior, não foi uma briga de vila, de favela; foi apenas um desentendimento, ocasionado por uma provocação minha, por certo, já está arrependido:

_ Mas, doutora a violência doméstica, não tem classe social.

_ Ah, Ananda, não me faça rir, olha para mim, olha para essa casa, para quem é o meu marido, você acha mesmo que sou igual, a Joana que trabalha de doméstica, aqui para mim? Não seja ridícula, como lhe disse foi um desentendimento, mais acalorado, somos promotores de justiça neste estado, não podemos e não vamos jamais frequentar qualquer tipo de delegacia de polícia, estamos acima disso, entende?

Atônita com que acabara de ouvir a assistente ministerial, apenas sinalizou com a cabeça, que tinha entendido, e perguntou, o que ela queria que fosse feito.

_ Ligue para o meu médico, diga, que cai da escada, e que ele precisa vir aqui em casa me atender.

Quinze minutos, após a chamada telefônica.  Dr. Luiz tocou a campainha, Ananda abriu a porta, e o médico seguiu direto para o quarto, onde estava Leonor. Não precisou de indicação, parecia conhecer a casa, pelo visto, aquela não era a primeira vez que o médico atendia Leonor. 

Ao adentar no quarto, o médico ficou alguns segundo observando a paciente, que possuía os hematomas nos braços, nas pernas, os olhos inchados de chorar, e a voz rouca, e um leve constrangimento no olhar.

Durante o atendimento, o médico disse a ela, que não sabia que escadaria tinha mãos, uma vez que, os dedos de Junior haviam ficado gravado em sua pele branca. Irritada, Leonor retruca, dizendo que nunca viu um ambulatório hospitalar atender paciente sem alvará sanitário.

Espantado, ele perguntou:

_ Como? Não entendi!

_ Então, o Senhor não demitiu uma enfermeira do teu hospital, há uns quinze dias, sem justa causa?

_ Sim, demiti, ela não conseguia apresentar o rendimento esperado.

_ Pois é, ela fez uma denúncia, afirmando que o novo ambulatório do hospital, não conseguiu obter alvará sanitário.

_ Ah é?

_ Sim! O senhor sabe que posso lhe oferecer um Termo de Ajustamento de Conduta e lhe dar um tempo razoável para sanar esse problema, sem maiores complicações, caso o senhor continue a manter a discrição, e nem em sonho, pense em comunicar o ocorrido na Delegacia de Mulheres.

_ E, se eu denunciar o que vem ocorrendo nesta casa?

_ Vamos negar, e eu vou entrar com uma ação civil pública e fechar o teu ambulatório, por falta de Alvará Sanitário.

_ Ok, doutora Promotora, afinal de contas, a costela quebrada é a sua mesmo.

Trato de silêncio firmando, enfaixou a costela, possivelmente, trincada, passou uma receita de analgésico, um calmante é um encaminhamento para fazer uma radiografia das costelas. Exame esse, que ela, somente, iria fazer quando chegasse a São Paulo, na casa de seus pais.

Visivelmente, irritado, o médico desceu as escadas, passou por Ananda, como se ela não estivesse ali. Sem entender nada, Ananda subiu para saber como estava Leonor, que pediu para que ela colocasse umas peças de roupas e produtos de higiene pessoal, e que a levasse para o aeroporto, porque iria passar uns dias com sua mãe até melhorar.

E, assim foi feito, Leonor seguiu para São Paulo para ficar na companhia de seus pais, enquanto, Junior voltou para Brasília, tudo como se nada tivesse ocorrido, até porque, antes de embarcar, Leonor foi muito clara com sua assistente ministerial, afirmando que se ela ousasse a contar para alguém o que tinha ocorrido, ela nunca mais, prestaria serviço para outro órgão público, ou seria aprovada em qualquer concurso.

  Na segunda-feira, Flaviana não foi trabalhar e não deu qualquer satisfação, todavia, como Leonor também não estava, a falta ficou sem maiores consequências.

 Já Leonor em São Paulo, a cada meia hora tentava falar com Junior, ligando em seu gabinete, mandando mensagem nos aplicativos do celular, lhe chamando pela via convencional de chamada de celular, no entanto, sem resposta.  

Junior, por sua vez, tentava de todas as formas falar com Flaviana, mas, ela via suas chamadas, os avisos de mensagem nos aplicativos, não só, não respondia como, ao aparecer a foto do Promotor, fazia cara de asco.

Junior sem entender, porque depois de uma noite avassaladora, Flaviana não o atendia, teria Leonor descoberto e feito algo com a garota. Tal hipótese o deixou desesperado, ligou na Promotoria e pediu para falar com Flaviana, no entanto, a assistente ministerial, Ananda, lhe informou que a jovem tinha passado na promotoria na quarta-feira e levado o seu pedido de desistência do estágio. Como, ele não havia perguntado sobre Leonor, indignada, Ananda lhe disse que Leonor estava bem, e que, tinha ido passar uns dias com seus pais. Junior sequer ouviu essa última parte da conversa, desligou e partiu para o aeroporto, era necessário, voltar para Mato Grosso, ver Flaviana, dizer que iria pedir o divórcio, que iria se casar com ela.

O voo aterrissou as 13h30min, Junior desceu atropelando os demais passageiros, entrou no primeiro táxi que encontrou com a porta aberta. Seguiu direto, para a quitinete de Flaviana, tocou a campainha inúmeras vezes, mas, Flaviana não atendeu.

Assim, só restava ir para a casa, e esperar o horário da Faculdade, por certo, que ela iria comparecer na Faculdade, então, ele poderia conversar com ela e saber, por qual motivo, ela tinha sumido.

Agoniado, o dia passou arrastado, na sua cabeça, Flaviana habitava o tempo todo; já quanto a Leonor, se alguma vez cruzava o pensamento, logo, era substituída pela lembrança daquela tórrida noite de sexo, que viveu com a novinha. Às 10h:40min, estacionou na frente da faculdade, debaixo de uma árvore, onde podia se proteger da visão dos transeuntes à sombra.

Passando alguns minutos uma caminhonete Toyota Hilux, parou bem de frente com o portão principal da Faculdade, viu a hora que o pai da Flaviana desceu do veículo e encostou na porta, a espera da filha com certeza – pensou o apaixonado promotor.

Ao ver o pai de Flaviana, Junior entendeu ser uma ótima oportunidade, para já ter uma primeira conversa com o homem, dizendo quais eram suas intenções para com a sua filha. Então, tomou coragem e seguiu rumo a caminhonete, quando ia se aproximando viu Flaviana apontar no portão, e pular nos braços do pai, lhe tascando um beijo ardente na boca, enquanto, o homem tirava do bolso uma caixa de joias.

 Junior ainda, pode ouvir quando Flaviana, com gritinhos histéricos, dizia:

 _ Não acredito, é minha Juste un Clou, ouro branco 18K.

 Junior, ainda sem entender o que estava acontecendo, sentia náusea, ao pensar no incesto que acabara de ver.  Porém, sentindo-se ferido, esqueceu que era um conhecido promotor de justiça; que era casado, que seus pais eram conhecidos na cidade, e contra os demais argumentos que poderia ter o bom senso, resolveu tomar satisfação:

 _ O que significa isso, Flaviana?

 Flaviana e o pai, levaram o maior susto com o grito, vindo do meio da rua, mas, sequer se dão ao trabalho de se soltar, ela continua com as mãos no pescoço de velho e ele, com as suas mãos entorno de sua cintura.

Dissimulada, Flaviana se limita a dizer:

_ Oi doutor Junior, como está, e a doutora Leonor já voltou de São Paulo?

Cego de ódio e ciúmes, Junior tentou tirar Flaviana dos braços do velho, enquanto, questionava o porquê Flaviana havia beijado seu pai na boca.

_ Flaviana, como você tem coragem de beijar teu pai na boca, você tem um caso com teu pai, e não me disse nada, você me enganou, me arruinou?

 A essa altura, as pessoas que deixavam a faculdade, bem como, os que esperavam por algum aluno na saída, começaram a se aglomerar em volta, para melhor entender o motivo da discussão. Enquanto, Flaviana e o velho se entreolharam e caíram na gargalhada.

 Flaviana, então, protegida pelo seu Papi, responde às indagações do decepcionado promotor: 

 _ Oxê! Nunca disse, que o Papi era meu pai biológico, ficou maluco?

Junior, sem entender nada, só balançava a cabeça, negativamente, enquanto, Flaviana seguiu na explicação:

_ Ele é o meu Papi, porque eu sou a sua sugar baby. Nunca lhe dei qualquer motivo para acreditar, que queria um relacionamento sério com você, pois como você está vendo, já tenho um contrato de relacionamento.

 Caindo em si, do ridículo que tinha se colocado, empalideceu, virou e saiu correndo em direção ao carro, deixando atrás de si, um show de gargalhada, e algazarra dos jovens que viram a situação constrangedora, protagonizado pelos três.

 Junior, entrou no carro e arrancou, quase atropelando alguns jovens que conversavam, do lado de seu carro.

  No outro dia, foi aquela correria para abafar o caso, para que nenhuma notinha saísse em site de fofoca da cidade.

  Sem ter saída para salvar sua moral, Junior resolveu, então, atender Leonor, e retomar o casamento.

  Sendo que a última notícia, que tivemos sobre o casal de promotor, Leonor continuam em tratamento para engravidar e Junior, rezando para que a esposa nunca soubesse do ocorrido, ou seja, que havia se apaixonado por uma sugar baby.

 

 

Livro: CONTOS E (DES)CONTOS DA JUSTIÇA

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