A sombra dos cinamomos

Poemas | Romeu Donatti
Publicado em 12 de Março de 2024 ás 20h 34min

(ode à minha infância)       

O que somos, se não a soma de cada experiência vivida?

Cada pedacinho

Cada lembrança

Cheiros

Sabores

Pessoas

Amores

Quem somos à sombra dos cinamomos?

Era uma casa azul-clarinho

Era uma vida de passarinho

No Distrito de Colombo

Eu vivia bem mansinho

“Colomba”, meu eterno carinho!

A vida pacata do interior

O risoto fumegante da madrinha

Meus amigos e professores da escolinha

A saudade que há em mim não finda

Da minha primeira professora, Clarinda

Que exigente e atenciosa exercia sua profissão

Na tarefa de nos ensinar: a ela, minha gratidão!

Lembro das festas na comunidade

Da correria com a garotada

Ao redor da igrejinha.

Que saudade!

Sinto o aroma do churrasco assado

Em espetos de madeira preparado

A vida era plena

Livre de qualquer pecado.

A infância é sublime

Tempo de descoberta

De construção, de achado

Saudade...

Do mandolate

Do Mirabel

Dos temporais

Dos laranjais

Do pinhão

Dos parreirais

Das noites de serão

Esquecer? Jamais!!!

Da ameixa

Do caqui

Do filó

Do torresmo

Dos avós

Da geada nos quintais

Dos brinquedos artesanais

Caprichosamente feitos

Por meu querido padrinho

Vejo-o sereno, a sorver seu vinho...

Eu vivia como passarinho!

Tamanha saudade...!

Do caniço de taquara

De pescar no açude

Da madrinha, joia rara

Dos primos, dos tios

Do vento minuano

Dos rios

Da chimia no tacho

Da macarronada em família...

Guardo, da criança, a pureza

De Guaporé, a beleza

Das perdas, a sutileza

Da infância, a certeza,

É tempo majestoso, não volta mais

Tenho saudade dos vendavais

Que nos moldam, nos constroem

E encorajam a escalar montanhas

Para atingir nosso paraíso singular

E hoje, já adulto

Descubro que aquela montanha

Nada mais era que um mero barranco

Transformado em passagem secreta

Junto ao cinamomo, próximo do balanço

Por debaixo daquela videira

Passei minha infância inteira

Colhendo frutos deliciosos

Para saboreá-los agora

Sem pressa, aos bocados

Quando aperta, a saudade!

Sinto o cheiro da infância

Diante de mim ela se revela

Fechei a porta do passado

Entretanto, não a tranquei

Espreito-a quando há necessidade

De rever quem fui

Quem sou

E quem quero ser na vulnerabilidade

Da inconstância

Quem somos?

Lembrança?

Cada pedacinho

Infância!

Livro: A sombra dos cinamomos

Comentários

'

Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.