A SABEDORIA DO PEQUENO ZÉ
Era uma vez em Cachenge, distrito de Changara , em Tete, havia uma menina muito bonita. Tinha olhos apaixonados, corpo de viola e dentes brilhantes. O corpo de Maria para os naturais era uma lenda e para os vindouros era uma arte de escultura e os homens não resistiam , caiam aos seus pés.
Muitos homens de renome no local e das zonas circunvizinhas vinham ao encontro do pais da menina para pedir a mão dela em casamento mas esta recusava. Houve propostas de homens que queriam pagar o lobolo em 20 cabrito, outros em 10 bois e até houve alguém que prometera 20 bois e muito dinheiro mas todas as propostas foram recusadas.
Certo dia , uma anciã disse ao pais da Maria que a menina estava grávida de dois meses mas eles não ficaram convencido e acharam melhor confirmar a noticia.
--- Sim pai , estou grávida.---disse a filha.
--- De quem?--- perguntaram os pais.
--- Não sei.--- respondeu a filha.
Para além de chocados, os pais da Maria estavam muito chateados e envergonhados da filha por que esta tinha se metido com muitos homens nos últimos meses e o pior ela não tinha a certeza de quem era a gravidez. A notícia da gravidez se espalhou rapidamente em Cachenge e nas zonas circunvizinhas e para surpresa de todos , o Manuel, o Tembo ,o Jorge e o Basílio, filhos de homens influentes da zona, lutavam pela paternidade. Era algo inédito na região homens a lutarem pela posse duma gravidez.
O caso foi julgado pelos juízes locais e muitos outros distantes mas não havia nenhuma solução. A menina confirmou ter tido casos com os quatros rapazes num curto espaço de tempo e tinha a certeza de que um deles seria o pai mas não sabia quem era. Devido as pressões dos candidatos, os homens mais experimentados da zona e de algumas zonas distantes foram consultados mas muitos deles ficaram boquiabertas, outros irritados e confusos com as palavras da Maria e dos quatro rapazes.
Na zona , por não terem conhecimento da existência do teste de DNA, os melhores curandeiros do distrito foram convocados para trazerem a solução para os pretendentes. Durante as consultas aos espíritos, uns viam que a criança tinham dois pais, outros três, a maioria os quatro rapazes e nenhum deles os espíritos lhes revelaram apenas pai.
Alguns meses passaram , o clima estava muito tenso entre os candidatos e o rei determinou que nenhum dos quatros rapazes deveria se aproximar da Maria e do pequeno Joãozinho, que já estava a andar e já tinha aprendido a falar.
Certo dia, Zé, um adolescente esperto e órfão de pai, dirigiu-se a casa do rei e disse:
--- Vossa Majestade, eu sei como posso descobrir o verdadeiro pai de Joãozinho.
O rei e seus conselheiros, riram-se do pequeno Zé e um dos guarda-costas do rei o ameaçou acusando-o de ter incomodado e perdido respeito ao rei uma vez que os homens mais sábios e os curandeiros mais influentes da região foram consultados mas não houve nenhuma solução. O Zé tanto insistiu que um dos conselheiros pediu ao rei a dar uma oportunidade ao rapaz argumentando que os homens não se medem aos palmos.
--- Como descobrirás a paternidade?--- Perguntaram eles.
Zé disse ao rei e aos presentes que para tal ele precisaria de pôr os quatro candidatos sentados por detrás da casa do rei ,na escuridão e a única fonte de iluminação seria a lua cheia . Os outros requisitos que pedira ao rei para que preparasse para os candidatos era de pô-los vestidos e sentados da mesma forma e em mesmo tipo e cor de cadeiras.
O dia mais esperado chegou , a população local e de zonas circunvizinhas e longínquas estavam reunidas na parte frontal da casa do rei e os candidatos, sentados, segundo as exigências do Zé , na parte traseira. Zé ,o rei, a Maria e o Joãozinho se descolaram da parte frontal para traseira da casa para se desvendar o mistério. Quando lá chegaram, Zé deu uma laranja à Maria e a ordenou a dar criança para entregar a um dos homens, sentados no escuro , que naquela hora não deveriam se mexer, nem tossir e nem gesticular.
--- Joãozinho , vá e entregue esta laranja ao papá--- ordenou a mãe ao Joãozinho, apontando o dedo para a parede traseira da casa, onde estavam sentados os quatro homens, cada um ansioso em serem pai da criança mais linda da zona.
O pequeno Joãozinho passou pelo primeiro, segundo e terceiro homens e foi ao quarto. Reparou-o fixamente , mas hesitou em se aproximar dele e voltou ao terceiro homem, chamou-o de papá, lançou-se aos seus braços e o entregou a fruta. O pequeno Zé disse ao rei para declarar ao Jorge pai do Joãozinho. A festa continuou por longos dias e o pequeno Zé foi respeitado por todos e distinguido por muitos reis com muitas honras e foi escolhido para ser um dos conselheiros mais próximo do rei.
Literatura JC, 18.11.2018