A Presença do Gótico em Ligeia de Edgar Allan Poe.
Artigos | Keila Rackel TavaresPublicado em 07 de Junho de 2025 ás 08h 22min
A PRESENÇA DO GÓTICO EM LIGÉIA DE EDGAR ALLAN POE
Keila Rackel Tavares Machado*
Prof. Dr. Rafael Quevedo**
RESUMO
O presente artigo de natureza de análise temática discute o fato do conto “Ligéia” de Edgar Allan Poe ser considerado um conto de terror, mistério e morte e não um conto gótico, já que este possui, além do mistério, outras características que autorizam esta releitura do conto, tais como: a questão da autenticidade narrativa do personagem narrador, o desejo, a descrição do cenário desolador e ambientes sombrios da abadia, o mistério, além do efeito fantástico que autoriza tal leitura e reforça a presença do gótico em “Ligéia”. A metodologia utilizada para a construção deste estudo contemplou literatura pertinente que possibilitou discutir se o conto “Ligéia” tem as particularidades inerentes ao conto gótico. Após a análise minuciosa das características que compõem o texto, ficou claro o caráter gótico no texto “Ligéia”.
Palavras-chave: Mistério. Gótico. Desejo. Literatura fantástica.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é propor a leitura do conto “Ligéia” de Edgar Allan Poe como sendo um conto gótico. Antes de tudo, atem-se ao fato de o conto ser reconhecido como conto de terror, mistério e morte e de Allan Poe ser também reconhecido mundialmente como autor de mistério. Levanta-se aqui a premissa de ser o mistério a condição sine qua non do gótico. Para tal, é preciso, primeiramente, traçar uma noção do que seja o gótico, como se apresentou na literatura, e pontuar suas características presentes no conto a ser trabalhado, além de apresentar o efeito gótico que a hesitação do fantástico provoca no conto trabalhado. A fundamentação teórica do trabalho será respaldada por autores como Baddley, Jason, Mendes, Monteiro, Radcliffe, entre outros. Tais autores contribuem no sentido de fornecer argumentos que possibilitem verificar a presença do gótico no conto aqui exposto.
- Graduanda em Letras Inglês da Faculdade Atenas Maranhense.
** Dr. em Literatura pela Universidade de Brasília. Professor de Literatura da Faculdade Atenas Maranhense.
2. O ESTILO GÓTICO
O gótico tem suas origens fincadas na arquitetura e foi um homem chamado Suger, o abade, que idealizou a construção de uma catedral com o objetivo de torná-la o centro religioso e político da França, a Catedral de Saint-Denis. Para tal, mesclou elementos da arquitetura da época, a românica, com a inspiração dionisíaca, proporcionando que a luz adentrasse na capela, causando um efeito sobrenatural de luz divina, ao passo que também se utilizou da lógica matemática das abóbadas para caracterizar a racionalidade humana. A partir daí, as catedrais foram incorporando aspectos pré-cristãos à sua arquitetura (como gárgulas e vitrais), que passou a ser considerada pela Igreja Católica uma estética pagã que contaminava a santidade das Igrejas. Cada vez mais a arquitetura afastava-se do ideal romântico e se influenciava pela cultura local.
A escultura gótica é um elemento à parte, muitas vezes colocada nas catedrais sem ter tido o propósito de agregar valor à temática da construção. Seu real propósito era o de estabelecer uma aproximação gradual à figura humana, desenvolvendo novas capacidades expressivas e autonomizando-se em relação à arquitetura. Sem sombra de dúvidas, a mais significativa das esculturas góticas é a Morte da Virgem, do tímpano da Catedral de Estrasburgo, onde a forma com que os Apóstolos tocam o corpo da Virgem e a emoção que se percebe em seus rostos foi vista com certa estranheza e até como forma de desrespeito à figura representativa da Igreja Católica Medieval.
As grandes catedrais francesas do gótico pleno representam um tal dispêndio concentrado de esforços que raramente se viu... São monumentos verdadeiramente nacionais, de custos incalculáveis, erguidos com donativos recolhidos em toda a França e de todas as camadas sociais – a expressão tangível dessa fusão de fervor religioso e político que fora o objetivo do abade Suger (JASON, 2001, p. 440).
O gótico em si vai muito além de suas noções arquitetônicas; ele se compromete com o não realismo, com a quebra do ideal neoclássico de ordem, assumindo assim o resgate da liberdade da imaginação. Funciona também como uma forma de reação ao realismo, trazendo em suas narrativas uma constante oscilação entre ambos.
Comentários
Um artigo de elevada cultura! Muito bom!
Lorde Égamo | 10/06/2025 ás 17:30 Responder ComentáriosObrigada,caro amigo!
Keila Rackel Tavares | 10/06/2025 ás 21:09