A PORTA

Poemas | Isolti Cossetin
Publicado em 16 de Novembro de 2025 ás 19h 37min

A PORTA

Fecho meus olhos...

Volto devagar,

como quem pisa nas lembranças

com medo de acordá-las.

A casa é a mesma, o jardim também,

talvez menor, talvez mais silencioso,

como se o tempo também respirasse baixo.

Diante da porta,

sinto o coração bater em ritmo antigo.

Há risos do outro lado,

vozes conhecidas,

o cheiro do café recém-passado,

o pão quentinho sobre a mesa,

a vida inteira me esperando.

Quase ergo a mão para tocar a madeira —

mas detenho o gesto.

Porque abrir é romper o encanto,

é deixar que o sonho se dissolva em realidade.

Prefiro ficar aqui,

onde tudo ainda é possível,

onde ninguém partiu,

onde sou criança outra vez,

de pés descalços e olhos plenos de mundo.

Ali, na soleira do tempo,

descubro que a saudade também é um lar

e às vezes basta estar diante dela

para sentir-se, enfim, em casa.

 

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