A porta está trancada.

Num espaço sombrio, frio, escuro e úmido, eu me encontrei. Ali, não havia resquícios de luz ou uma fresta para observar os movimentos em torno. A porta estava trancada. Me senti impossibilitada de contemplar qualquer coisa. Então, tentei encontrar uma forma para que a porta fosse destrancada.

Mergulhada naquela escuridão, tateando para sair, ouvi um murmurinho. Era o tempo passando de mansinho. Eu perguntei:

— Quanto tempo leva para destrancar a porta?

E ele me respondeu:

— Só o tempo dirá!

Comecei a imaginar como seria a vista do lado de lá. A luz era amarela? O céu é uma aquarela? Não dá para saber se na escuridão permanecer. A luz precisa entrar para poder clarear, e as coisas, eu encontrar.

Enquanto isso, ouvi um tic-tac. Era a hora passando. Perguntei:

— Quantas horas levará para que a porta seja destrancada?

Ela me respondeu:

— A hora que for hora, certamente a porta será destrancada.

O lugar era limitado. Não havia possibilidade de encontrar a claridade, pois a porta estava trancada. Num ápice de loucura, pensei: seria de loucura que a porta havia se trancado? Enquanto eu pensava, ainda imaginava: os rios são coloridos? Os bichos têm seus lugares preferidos ou nada mais faz sentido?

Então, novamente ouvi um respirar profundo. Era o sonho por ali passando. Perguntei:

— Sonharia em abrir a porta?

Ele me respondeu:

— Sonho é pra quem dorme; você está acordada.

Estaria eu destinada a viver com a porta trancada? O sonho ficou calado. Se o sonho ficou calado, já sabe o resultado: ele não tem a chave do cadeado. Ainda continuaria naquele lugar sombrio e com a porta trancada?

O tempo já havia passado, a hora e o sonho também. Será que viria alguém ou eu seria refém daquele simples quadrado? Então, ouvi ao longe sons como musicais. Senti por mim passar algo que fez meu corpo arrepiar. Será que ainda tem alguém que queira também a porta destrancar?

Era um velho livro tentando me encontrar. Sem hesitação, fui logo perguntando:

— Leria uma palavra que fosse a chave do cadeado? Queria tanto ver as coisas do outro lado.

Ele me respondeu:

— Nas primeiras linhas, você irá encontrar a chave do cadeado e a porta destrancar.

Logo que comecei a ler, foi como mágica. A porta logo se abriu, e pude encontrar as respostas que desejava. A luz não é só amarela, e o céu pode ser pintado com aquarela. A leitura é a chave para abrir qualquer porta de uma mente disposta a sair da escuridão.

Os rios não são só coloridos, como podem colorir. Os bichos, muitas vezes, não têm nem a chance de existir… Os sons que ouvi eram letras, canções e poesias que estavam dentro de mim, lutando para sair da minha mente que, até aquele momento, havia sido prisioneira.

Hoje, às vezes encontro a porta ainda trancada, mas como tenho a chave, abro-a para continuar buscando na leitura a luz para desencadear as coisas que ainda há no universo, esperando alguém para contemplar. Lendo, compreendi que só estarei na escuridão por minha decisão.

Hoje, a porta da mente só se fecha para algumas pessoas que querem atrapalhar o caminho que decidi,  traçar. E, quanto mais eu leio, mais luz vem clarear o meu pequeno “quadrado”, que já não gosta mais de viver com a porta trancada.

20/01/2025

Escritora: Rose Correia