A Parede de Vidro
Contos | 2025 - MAIO - Laços de família: Histórias de amor e conexão | Rose CorreiaPublicado em 27 de Março de 2025 ás 07h 21min
A Parede de Vidro
Todos os dias, Joana brincava na rua de sua casa. Corria por entre as flores e brincava com as folhas secas do chão. Às vezes, ela apostava corrida com elas, quando o vento as levantava. Joana corria ao lado, e, quando a folha caía no chão novamente, ela ria e dizia: "Ganhei de novo!".
Entretanto, Joana tinha um limite imposto por seus pais. Não poderia ultrapassá-lo. Ela sempre obedeceu, nunca questionou. Certo dia, Joana estava apostando corrida com sua amiga, a folha, quando se deu conta de que havia ido além do permitido.
Joana se deparou com uma grande parede de vidro. Ela ficou ali, olhando a parede e, de repente, viu um garoto do outro lado. Pensou: "Será que ele está me vendo?" Joana então se aproximou daquela parede transparente. O garoto também se aproximou. Eles fixaram os olhos um no outro, mas Joana ouviu alguém chamá-lo: "Tobias!". Ele se foi, e Joana voltou a brincar. Ela era livre: apostava corrida com as folhas, colhia flores, sentia o aroma de cada uma, sujava-se na lama, tomava banho de rio e cachoeira, subia nas árvores, brincava com as borboletas e outros bichinhos. Era uma garota feliz.
Outro dia, Joana resolveu ultrapassar o limite novamente. Lá estava Tobias, com olhar tristonho e profundo. Ela se aproximou e o observou por um instante. Ele era distante, não havia traços de sorriso em seu rosto. Ela pensou: "Será um boneco de jardim? Está muito bem vestido para ser…". E, mais uma vez, ela ouviu alguém chamá-lo. Joana permaneceu ali por mais um tempo e, então, foi embora. Porém, algo começou a incomodá-la. "Por que aquela parede? E por que de vidro?" Então, decidiu perguntar aos pais. A resposta foi um tanto inesperada, mas Joana não questionou.
Certo dia, enquanto colhia algumas flores, lembrou de Tobias e foi até lá. Não o viu onde costumava estar. Procurou e encontrou um bilhete colado na parede, que dizia: "Gostaria tanto de estar com você, mas há um vidro que nos separa". No outro dia, ela voltou com a resposta: "Nada nos separa quando estamos dispostos a enfrentar nossos medos". Deixou o bilhete ali e se foi. Aquilo a incomodou de tal forma que foi difícil esperar até o outro dia.
No dia seguinte, Joana não se conteve. Ao chegar lá, não viu o garoto então, tocou a campainha. Alguém atendeu e, ao se identificar, foi convidada a entrar. Joana andou por entre aquelas paredes de vidro, com o coração acelerado, e se aproximou de uma grande porta. Tobias estava em uma cama, pálido e fraco. Aquele era seu último dia. Os médicos haviam dado o veredito. Joana disse: "Deixe-me levá-lo até o meu mundo". Colocaram Tobias numa cadeira de rodas e Joana o conduziu. Ao chegarem no jardim, foi como se todas as energias negativas que estavam dentro de Tobias saíssem, e as energias boas daquele lugar entrassem nele. Ele sorriu.
Joana o devolveu e foi para casa. Todos os dias, ela tirava Tobias de dentro daquelas paredes e o levava para fora. Ninguém conseguiu provar cientificamente a cura de Tobias, e hoje o vidro não os separa mais. Eles correm livremente pelas ruas, rindo e brincando, como se fossem da mesma classe social. Agora, Tobias também aposta corrida com Joana e suas "amigas" as folhas.
E, a partir daquele dia, o vidro não foi mais uma parede, mas apenas um reflexo do que somos quando decidimos viver além das limitações que nos impõem.
História de Conexão. Rose Correia.
Comentários
Excelente este seu conto. Ele nos leva e reflexões importantes! Parabéns por texto tão significativo!
Lorde Égamo | 28/03/2025 ás 14:48 Responder Comentários