A Noite Estrelada de Van Gogh

Prosa Poética | Carlos Roberto Ribeiro
Publicado em 16 de Março de 2025 ás 12h 45min

Nasceu em Zundert, como quem brota em terra árida, mas traz dentro de si um jardim de cores ainda desconhecidas. Vincent não veio ao mundo para ser compreendido—veio para sentir. Antes que soubesse segurar um pincel, segurou o silêncio, as frustrações de um homem que buscava fé e sentido no meio da escuridão.

 

Tentou ser comerciante, professor, pregador—mas sua alma era de pintor. E quando enfim encontrou as cores, não as usou com timidez. Pintava com fúria, como se cada pincelada fosse um grito, um pedido de socorro, uma tentativa de traduzir o que o coração já não podia conter.

 

No começo, seus quadros eram cinzentos, carregados de sombras e mãos calejadas, como em "Os Comedores de Batata", um tributo ao suor e à simplicidade dos que vivem da terra. Mas Paris o chamou, e ele atendeu. Lá, os impressionistas abriram-lhe os olhos, e ele mergulhou no amarelo do sol, no azul profundo da noite, na dança frenética da luz sobre a tela.

 

Foi em Arles que sua alma explodiu em cores. Os "Girassóis" não eram apenas flores, eram chamas—labaredas de um espírito inquieto. O "Quarto em Arles", um refúgio, mas também uma prisão de paredes tortas e tons vibrantes que sufocavam e abraçavam ao mesmo tempo. E então veio "A Noite Estrelada", onde o céu não apenas brilha—ele gira, ele pulsa, ele sussurra histórias que só um homem como Vincent poderia ouvir.

 

Mas a beleza vinha com dor. O mundo nunca lhe devolveu o amor que ele deu. Cortou a própria carne na ânsia de arrancar um sofrimento que não se desfazia. Internou-se, buscou a cura nas próprias pinturas, mas as tempestades internas não se acalmavam.

 

E então, um disparo. Ou um acidente. Ou um adeus que o mundo não teve tempo de entender. Dois dias depois, Vincent partiu, e levou consigo o peso de uma vida de incompreensão.

 

Mas ele não sabia—como poderia saber?—que suas telas um dia encheriam museus, que seu nome ecoaria como um sussurro eterno na história da arte. Que aqueles que nunca o enxergaram em vida passariam séculos admirando as estrelas que ele pintou.

 

Van Gogh morreu sem saber que se tornaria imortal.

 

Comentários

Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.