A inutilidade é a essência perdida
Crônicas | Hanna.HPublicado em 08 de Setembro de 2024 ás 12h 44min
Certa noite, na cozinha, durante uma conversa descontraída com minha mãe notei a
existência do filtro de água preso a parede. Percebi sua posição ocupada naquele
espaço tão habitado por mim e todos os dias. Porém, apesar de sua inegável postura
inerte e constante na parede pálida da já conhecida copa, sua percepção não me
alcançava, eu ignorava seu visível estado.
Curiosamente, aquele filtro foi notado por mim assim que me mudei para o apartamento, me chamou atenção assim que o vi.
Era um filtro mofado e, portanto, inútil para a filtragem adequada, ou seja, notei sua
existência justamente por sua inutilidade diante da única função que poderia ter e,
ironicamente, passei a ignorá-lo pelo mesmo motivo: A sua inutilidade, a qual
sufocava sua própria existência.
Às vezes, não nos damos conta do porquê da ausência de percepção sobre nós e a
vida que temos traçado, a consequência inevitável do "modo automático" assumido
pelas mentes aceleradas e condicionadas pelo tempo que nos consome. Carregamos
dias a fio sem destino certo, sem certezas ou convicções, sem pensar. No fim, nos
damos ao desfrute da inutilidade de nós mesmos, permanecendo no espaço de modo
cada vez mais invisível e inerte. Se algum dia te disseram que daqui a 100 anos
ninguém mais lembrará de você, lembre-se de que há algo muito pior e diário: A
ausência da lembrança de nós mesmos. Não nos lembramos de nós, do que somos
e o que queremos, nos esquecemos em meio ao ritual diário, nos inutilizamos. No fim,
a inutilidade é a consequência nata da perda de essência.
Comentários
Uma crônica digna de ser apresentada! gostei muito da metáfora do filtro utilizada para nos induzir à real e pura reflexão sobre nós mesmos, a nossa razão de ser! Parabéns!
Lorde Égamo | 05/10/2024 ás 08:53 Responder Comentários