A Formiga que Queria Ser Abelha

A formiga estava cansada de ser formiga e decidiu que iria ser uma abelha. A formiga havia observado a abelha que cruzava seu caminho todos os dias e pensou: "Ferrão, eu tenho. Bumbum avantajado, tenho. Habilidades para executar meu trabalho também. O que me falta é um belo par de asas. Estou cansada da vida que levo, todos os dias tropeçando, caindo e levantando. Chega! Está decidido: vou ser uma abelha. As abelhas são livres, podem voar, sentir o cheiro das flores e o vento no cabelo. Eu não tenho cabelo, mas vou sentir o vento na careca mesmo. O importante é que vou sentir o vento."

Ia a pequena formiga carregando uma folha de amora e sonhando com o instante em que não seria mais uma formiga. Enquanto isso, passou, em um voo baixo, a abelha, com seu "zumm", e seguiu seu caminho. A formiga parou e disse: "É agora! Vou subir nesse pé de amora o mais alto que eu conseguir e vou alçar voo. Serei uma abelha! E ai daquele que disser o contrário! A partir de hoje, vou carregar néctar ao invés de folhas!"

Enquanto se imaginava abelha, a formiga subia mais alto. No entanto, não imaginava que levaria mais tempo do que o planejado para alcançar a altura desejada. De repente, pisou em um galho seco e tibum... "Ah, estou voando!", pensou, mas logo lembrou que não tinha asas e, na verdade, estava caindo. Pensou: "Não serei abelha, apenas uma formiga morta."

Enquanto isso, a abelha fez seu percurso e estava voltando para sua colmeia. Ao passar por debaixo do pé de amora, sentiu algo pesado caindo em cima de suas asas, o que a derrubou no chão.

"Nossa! Que tombo!", disse a abelha. "Quase quebrei minhas asas." Enquanto se preparava para alçar voo novamente, a abelha percebeu que algo estava prendendo sua asa e sacudiu: "Quem está aí? Solte minha asa, preciso trabalhar!"

A formiga não queria soltar a asa da abelha e pensava: "Essas asas têm que ser minhas. Eu sou abelha agora!" Mas, ao perceber que ainda estava viva, sentiu uma mistura de gratidão e frustração. Aproveitar a oportunidade de não ter morrido parecia tentador, mas, ao mesmo tempo, ela sabia que aquele não era o seu lugar. "Eu sou formiga. Nunca vou ser abelha", pensou, enquanto lutava para manter sua presa.

A abelha insistia em sacudir sua asa até que, plof, a formiga caiu.

"Ah, era você? O que estava pensando? Quase quebrei minha asa!", exclamou a abelha.

A formiga, agora mais calma, respondeu: "Eu queria ser abelha. Só faltava um par de asas."

A abelha sorriu e disse: "Mas esse par de asas é meu. Como eu ficaria sem elas? Não tenho habilidades para andar igual a você, não conseguiria viver por muito tempo sem elas."

A formiga suspirou, aliviada por não ter se machucado, e disse: "Ainda bem que caí nas suas asas e ninguém se machucou. Onde eu estava com minha cabeça, querendo ser abelha?"

"Não sei", respondeu a abelha. "No entanto, você não está errada em querer algo, mas deve ter consciência de que não podemos ferir o próximo com o nosso desejo."

A formiga, pensativa, disse: "Então, um dia eu posso ser abelha?"

A abelha riu suavemente e respondeu: "Na imaginação, você pode ser o que quiser. Mas na vida real, somos o que nossa natureza mostra. Podemos até ser parecidas, mas, no fim, somos diferentes. Você tem suas qualidades, assim como eu tenho as minhas. Eu posso voar, mas não sou capaz de carregar o peso das folhas como você faz com tanta destreza. Eu posso ser livre no céu, mas você tem uma força que eu jamais teria na terra. Juntas, podemos ser fortes em nossa diferença."

A formiga, refletindo profundamente, olhou para as suas patas e respondeu: "Você tem razão. Talvez seja isso que eu precise entender... que ser formiga também é ser forte. Cada um de nós tem um papel no mundo."

A abelha, sorrindo, deu-lhe um último olhar e, com um leve bater de asas, começou a se afastar. "Lembre-se, pequena formiga", disse ela enquanto voava para longe. "O importante é ser fiel à nossa essência. Não busque ser outra coisa, pois sua verdadeira força está em ser você mesma."

A formiga seguiu seu caminho, carregando sua folha com um sorriso no rosto e pensando nas palavras da abelha. Ela sabia que, embora fosse fácil sonhar em ser outra coisa, aceitar sua natureza era o primeiro passo para ser verdadeiramente feliz.

Moral da história: A verdadeira felicidade está em aceitar quem somos e valorizar nossa própria natureza, sem desejar ser o que não somos. Cada um de nós tem um papel importante e único no mundo.

Fábula . Rose Correia.