A Arte na Poética de Aristóteles e no Livro III da República de Platão.
Teoria Literária | Victor RodriguesPublicado em 20 de Abril de 2022 ás 18h 21min
A Arte na Poética de Aristóteles e no Livro III da República de Platão.
A arte em Aristóteles se expressa através da tragédia, segundo sua visão é uma imitação de uma ação que se dá de maneira séria e completa, sendo extensa, dentro de uma linguagem bem condimentada para cada parte que se trata, a imitação é efetivada pelos atores que operam a encenação, graças ao Terror acrescentado de piedade, temos a purificação de tais emoções. Para o filósofo, a tragédia se caracteriza pela imitação de realidades dolorosas, a sua primazia é o mito, em sua forma mais bruta.
A sua poética é o palco onde seus pensamentos já estão encenados. Podemos ver essas características no teatro, no cinema até os dias de hoje. A tragédia grega é oriunda do culto dionisíaco, dentre as várias lendas sobre o nascimento de Dionísio a que mais se destaca é uma que fala que ele era filho de Zeus com uma mortal, filha de Kadmos, Rei de Tebas. Hera que além de irmã de Zeus, era também sua esposa, que nesse contexto o objeto de ciúme é Sêmele. Após convencê-la a forçar Zeus a mostrar toda sua força, viu a amante ser totalmente queimada com seus raios, momento em que ele pôs em sua coxa até que completasse a gestação normal. No momento do nascimento da criança Zeus a deixou com os Sátiros e as Ninfas no monte chamado Nisa, passou a viver portanto numa gruta cheia de vegetação à sua volta. Quando já crescido, Dionísio colheu os cachos de uvas , e espremeu bem colocando em taças douradas, dando também aos Sátiros e também as Ninfas, acabando ficando todos bêbados, desfalecidos e caídos por terra. Nisso a figura de deus implicou através de uma devoção marcada pela crença que êxtase e o entusiasmo provocavam a superação da condição humana para uma comunhão com a sua condição sobrenatural, era o alcance do métron, era linha de alcance do ser mortal de superação humana que o separa do divino. Era transposição dessa linha.
E a tragédia é isso, ela só acontece se esse métron for ultrapassado, é o momento em que o ator se transforma em outra pessoa, assume outra identidade, as bacantes eram um exemplo clássico de possessão dionisíaca. O sofrimento da húbris nos personagens é o tema muito presente na mitologia grega, pois eles sofriam as consequências de seus atos, a sentença era o castigo dos deuses, que eram temidos por seu poder e suas imperfeições não eram levadas em conta para os simples mortais, como vimos que na tragédia ocorre o metron pelo homem, isso faz surgir o nêmesis, que poderia causar ciúme,ou vingança, ocasionando a falta de total juízo do herói como consequência seu julgamento era feito pela moira, que era a loucura. O que para Platão a poesia, as fábulas e mitos se mostram de maneira perfeita ao custo da história. Nele de maneira indubitável os deuses e heróis devem se comportar de maneira virtuosa:
“ o que os poetas bem como os prosadores nos contam a respeito dos seres humanos é ruim. Dizem eles que muitos indivíduos injustos são felizes e muitos justos são infelizes, que a injustiça é vantajosa se não for descoberta e que a justiça é o beneficio alheio, mas também o prejuízo próprio”
A Poética de Aristóteles é responsável por abordar diferentes tipos de poesia, podendo ser na estrutura, divisão, ou em suas partes componentes. Ele define poesia como um meio de imitação que serve para representar ou dobrar a vida por meio de uma emoção, um ato e até mesmo um caráter. Ele tem uma visão ampla de poesia, ela pode ser épica, trágica, comédia, ditirâmbicas, dentre outras. Temos que ter em mente também que mimese é um conceito muito complexo, pois gerou modelos diferentes de arte, atingindo questões do realismo e do idealismo, não se prendendo ao modelo estático da imitação. Em Platão a imitação assume forma que são os hábitos em relação aos gestos corporais, a forma da voz, a forma do pensamento, isso quer dizer , quando se apresenta numa narração seja qualquer personagem seja ele qual for um escravo, um louco, um animal, o guardião não imitará, pois esse guerreiro assume a figura de um homem moderado, esse tem o caráter digno , tendo em sua educação uma poesia grandiosamente sem imitação, só com uma pequena imitação garantida pelos homens virtuosos, só podendo desse modo ser admitida o imitador puro do homem bom. A mímese é um ponto muito importante de discussão, sempre gerando debates sob domínio de uma ótica platônica e aristotélica na maneira de refletir o mundo e produzindo um olhar nas artes musicas, visuais e poéticas. Aristóteles nunca faz uma análise de maneira escancarada do quem vem ser aquilo que ele entende como “imitação”. Ele retira esse termo de Platão, porque tinha uma crença que a arte era uma cópia de outra cópia, ou seja, era duas vezes mais removida da verdade:
Aristóteles afirmava que a mimese é feita principalmente como uma maneira de aprender e de adquirir o conhecimento e as habilidades necessárias. E aprendemos de acordo com nossa estatura individual: "homens de caráter mais venerável imitavam ações bonitas e as ações de tais homens; os homens mais ignóbeis imitavam as ações de personagens depravados". Essa força motriz da imitação é poderosa, uma vez que o aprendizado "não é apenas muito agradável para os filósofos, mas da mesma maneira para outras pessoas, embora participem dela, mas em pequeno grau".
Esse tipo de pensamento servirá de corretivo para Platão. A arte na verdade não é simplesmente uma imitação, mas uma recriação, porque a poesia é algo filosófico, são questões mais problemáticas segundo o filósofo, do que a própria história simplesmente pelo fato de suas afirmações se basearem em princípios da natureza e não universais, enquanto a história se apresenta de maneira singular, lembrando que hoje a história segue outros paradigmas mais complexo discutidos no meio acadêmico. Já em Platão vemos isso em oposto ele procura a matéria perfeita da poesia, das fábulas e mitos a partir da história onde prevalece a questão da virtude.
Outro aspecto presente na poesia de Platão é quando ele esmiuça o tema da poesia buscando três elementos importante: Letra, harmonia e ritmo. Isso permite que a poesia possa ser olhada por um novo aspecto, que é a poesia sobre uma ângulo educativo.
Não podemos também deixar de ressaltar outro aspecto importante em Aristóteles que é a catarse, purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões, esp. dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico. Embora por exemplo, haja na obra o Rei Édipo a questão da tragédia, ele tem consciência de sua situação trágica por aceitar o seu terrível destino,enfim a catarse induz o temor da plateia.