Ontem, confesso, eu quis largar tudo.
Deixa o mar acalmar, e o barco seguir seu destino.

Pensei em dar um tempo para as palavras

Deixá-las pertencer outras vidas. 

A poesia parecia não me escutar mais.
Senti o peso das palavras escrita,
e pensei em calar para sempre minha voz.

Mas hoje, hoje recebi um presente.
A querida professora e poetisa Ingrid Mohr me escreveu, dizendo:
“Assunto da minha aula de hoje..” lá estava a capa do meu livro.
Depois, ela me enviou fotos, as páginas dos cadernos cheias de versos.
Meus poemas, reescritos pelas mãos dos alunos,
copiados com cuidado, escolhidos um a um.
Eles decidiram qual poema escreveriam.
Eles o levaram para o próprio caderno, para a própria vida.

Fiquei olhando aquelas fotos, aquelas letras infantis ou juvenis, como se fossem flores que brotaram sem eu saber.
E pensei: Como desistir, sabendo que meus versos agora habitam outras páginas?
Como desistir, se minhas palavras serviram de ponte
para que eles pensassem sobre a própria história?
Como fechar meus cadernos, se eles abriram os deles para mim?

A poesia não é só minha.
Ela se espalha, se oferece, se renova.
Mesmo quando penso em desistir, ela me mostra que não desiste de mim.
Ela me encontra nos cadernos de quem decidiu copiar meus versos.
Ela floresce onde eu nunca imaginei plantar.

E então digo, com o coração tranquilo:
Hoje eu permaneço.
Hoje eu abraço a poesia que me escolheu.
E a guardo comigo, onde ela sempre esteve.

Obs. Tem mais fotos, mas não tem espaço, vou acrescentar outras depois

Fonte: Dolores Flor