Quantas páginas deve ter um livro? Uma análise editorial e técnica

Dolores Flor
Publicado em 10 de Julho de 2025 ás 15h 34min

A pergunta sobre o número ideal de páginas de um livro é mais comum do que se imagina, especialmente entre autores iniciantes. No entanto, a resposta não é tão simples: depende do gênero, do público, do formato editorial e da função da obra. Ainda assim, existem referências confiáveis, incluindo normas técnicas e orientações editoriais, que ajudam escritores e editoras a tomar decisões mais seguras.

Este artigo reúne informações da ABNT, critérios adotados por órgãos como a CAPES, além de conceitos amplamente utilizados no mercado editorial sobre o que define um livro, um livreto e até mesmo um “calhamaço”.

 

1. Quando um livro é realmente considerado um livro?

Do ponto de vista técnico:

  • ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabelece que uma obra é considerada livro quando possui mais de 49 páginas, excluindo capas e guardas.
  • Para a CAPES, que avalia produções acadêmicas, obras com ISBN ou ISSN devem ter no mínimo 50 páginas para serem classificadas como livros.

Esses dois parâmetros são amplamente adotados no mercado editorial brasileiro, funcionando como um divisor entre livro, livreto e outras publicações menores.

 

2. O que é um livreto, folheto, opúsculo ou brochura?

Publicações com poucas páginas não são exatamente “livros” — e o vocabulário editorial possui termos próprios para classificá-las:

Livreto

É o termo mais comum. Geralmente possui entre 8 e 24 páginas.
Costuma ser usado para fins didáticos, informativos, promocionais ou como pequenas obras literárias de curta extensão.

Opúsculo

Um termo mais formal e clássico.
É um pequeno livro de conteúdo breve, podendo ser literário, filosófico, crítico ou instrucional.

Folheto

Dos menores formatos.
É usado principalmente em publicações promocionais, informativas ou temáticas, podendo ter poucas páginas dobradas ou até mesmo uma única folha.

Brochura

Não indica a quantidade de páginas.
Refere-se ao tipo de encadernação com capa mole (a mais usada no Brasil).
No uso cotidiano, às vezes é associado a publicações pequenas.

 

3. E quando o livro é considerado um calhamaço?

No universo dos leitores, o termo calhamaço é carinhoso e subjetivo, mas expressa bem a sensação de volume e densidade.

Não existe um número técnico que define um calhamaço, mas há percepções comuns:

  • Para leitores casuais: a partir de 400 páginas já parece um calhamaço.
  • Para leitores experientes: o termo costuma ser aplicado apenas quando passa de 700 ou 800 páginas.
  • Característica central:
    Um calhamaço é um livro grande, volumoso, profundo e geralmente com narrativa complexa, que exige tempo e dedicação.

É uma classificação emocional, mais ligada à experiência de leitura do que à técnica editorial.

 

4. Como definir o tamanho ideal de um livro?

Não existe número mágico. O melhor parâmetro editorial é:

O livro deve ter o tamanho que a história precisa, nem menos, nem mais.

Ainda assim, existem referências úteis:

Livros infantis

  • 16, 24 ou 32 páginas são padrões comuns internacionais.
  • Podem chegar a 40, 60 ou 80 páginas quando há mais texto ou ilustrações complexas.

Ficção e não ficção geral

O mercado costuma trabalhar com faixas médias:

  • Até 150 páginas: obra curta
  • 150 a 300 páginas: obra média
  • 300 a 500 páginas: obra longa
  • Acima de 600 páginas: considerada muito longa

Mas o número de páginas pode enganar — já que fontes maiores, margens largas e diagramações mais abertas podem aumentar artificialmente a contagem.

Por isso, muitos editores preferem trabalhar com contagem de palavras, não de páginas.

 

5. Por que falar de páginas é tão relativo?

O número final de páginas depende de:

  • Tamanho do livro (A5, 14×21, 16×23, 15×21 etc.);
  • Fonte escolhida (Times 11 ocupa mais espaço do que Garamond 12);
  • Margens e espaçamentos;
  • Presença de ilustrações ou fotografias;
  • E até do papel, que pode ser mais espesso ou mais fino.

Por isso, medir um manuscrito apenas pelas páginas do arquivo Word não representa a realidade.

 

6. Orientação editorial para escritores iniciantes

Para quem está começando, algumas recomendações ajudam muito:

  • Não tente aumentar o livro apenas para alcançar um “número ideal”.
    O leitor percebe quando o texto foi estendido artificialmente.
  • Priorize consistência, clareza e densidade literária.
  • Analise livros similares, dentro do mesmo gênero e público, para ter referências realistas.
  • Converse com um editor, pois ele pode analisar o manuscrito e estimar a quantidade final de páginas de acordo com o projeto gráfico.

 

Conclusão: tamanho é função, não obrigação

Mais importante do que a quantidade de páginas é a qualidade do conteúdo e a adequação ao público-alvo.

Um livro pode ter:

  • 20 páginas e ser uma obra poética impecável;
  • 200 páginas e ser extremamente poderoso;
  • 800 páginas e se tornar um clássico inesquecível.

O verdadeiro critério editorial é sempre:
o livro deve ter a extensão necessária para cumprir sua missão literária.

 

Dolores Flor
Escritora, Editora e Idealizadora do Projeto Escritores Contemporâneos
“Onde a literatura encontra sua própria luz.”

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